sexta-feira, agosto 10, 2012

O BCE e a crise - segundo JG

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Quando Draghi diz que o BCE irá comprar a quantidade necessária para atingir os seus objectivos, isto só pode significar uma coisa: o BCE, enquanto responsável pela política monetária da zona euro, vai comprometer-se com um objectivo de spread para as dívidas dos estados membros. Independentemente do valor desse spread e do modo como este vai ser calculado, o juro a que os estados se financiam já não vai ser determinado pelos mercados, mas sim pelo BCE. Por muito que Draghi insista em dizer que a responsabilidade continua a ser dos governos e da política orçamental, que exija dos Estados a redução do défice e as famosas reformas estruturais, e que só intervirá se os Estados recorrerem aos fundos de resgate existentes, a solução para baixar os custos de financiamento dos Estados já não passa pela austeridade e pelas reformas estruturais.
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Quer isto dizer que a crise acabou? É evidente que não. Os riscos de implosão financeira e monetária até podem ter desaparecido (ou melhor, desaparecerão assim que o BCE intervenha nos termos referidos por Draghi), mas, por causa da política de austeridade suicidária, que o BCE entusiasticamente apoia, os riscos sociais, económicos e políticos não se alteraram. No fundo, o que a decisão do BCE garante é que a estratégia oficial da zona euro é financeiramente sustentável. O desemprego, as falências e a recessão, essas, não darão tréguas enquanto a zona euro não abandonar a actual mitologia económica e insistir em repetir as políticas desastrosas que, nos anos 30, transformaram a recessão numa profunda depressão económica.
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João Galamba / jugular, via CC: http://jugular.blogs.sapo.pt/3320268.html
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