segunda-feira, julho 18, 2005

Jornal da 11 / Dia 18 de Julho

Contactos

Ruben de Carvalho está metodicamente a levar a cabo um conjunto de contactos institucionais surpreendentes. Foi a Carris e o Metro, a Comissão de Moradores da baixa e o grupo de cidadãos SOS Cinema Europa, a Polícia Municipal e a Protecção Civil, entre outras.
Nos bairros, as iniciativas têm sido muito interessantes, pois é ali que a CDU tem os seus maiores apoios. E este é o modelo mais ‘calhado’ para os eleitos e candidatos da CDU: é lá, onde está o Povo, que a ‘malta’ se sente como peixe na água. E vice-versa: as pessoas sentem-se em casa com os candidatos da CDU por perto.
As colectividades e os eventos que se têm programado para as suas sedes têm dado bom resultado.
Mas nada disso entra nos noticiários.
Nem rádios, nem jornais, nem televisões.
Nisso, são bastante democráticos: todos tratam mal Ruben de Carvalho.
Mas a campanha não é só feita na comunicação social… verdade se diga.
E depois ninguém se pode admirar de que haja quem já não leia, já não veja telejornais, e tal…

Ballet

Dizem que nunca foi ver uma actuação do Ballet Gulbenkian. Mas Santana Lopes arrancou uma tirada única. Sem falar com ninguém, avançou com a ‘oferta’ de um milhão e 250 mil euros para criar um novo Ballet «Gulbenkian».
Agora, os arredores da questão:
1. Santana diz acintosamente que «já falei disto a Carmona, que concordou com a minha decisão». Vamos por partes: «Já falei». Isso quer dizer que acabou entre eles o estado de intimidade. Reconhecidamente. Agora, quando necessário, eles falam-se. Mais: foi afinal uma decisão individual aquilo que se pensaria que era uma decisão conjunta, debatida, colegial (afinal um é presidente e o outro vice-presidente da CML). «Que concordou», diz Santana. Vá lá. Concordou. Mas a decisão iria por diante com ou sem Carmona, deduz-se.
2. Quanto a Carrilho, Santana diz que o informou.
3. Quanto aos outros candidatos, nem tugiu nem mugiu.
4. Quanto à AMEC, nada.
5. Quanto à ministra da Cultura, zero. A própria o acusou disso.
Conclusão: Santana não está morto.

Trapalhadas

Vão ser aos montes as trapalhadas na CML nos próximos tempos. Toda a gente sabia que se ia colocar a questão de quem é quem nos próximos tempos. Mas o problema não estava nas agendas das redacções. Agora está. E há uma coisa que está a ficar cada vez mais clara: é que na CML tudo vai ser muito escuro nos próximos meses. Sobretudo a partir de 12 de Setembro, último dia do prazo para regressarem ou tomar posse na Assembleia da República aqueles que o podem ou têm de fazer, designadamente: Santana Lopes, Pedro Pinto, Helena Lopes da Costa. Saindo Santana, que vai fazer Carmona, que é (seu) vice?
Santana Lopes não pode deixar de ir ocupar o seu lugar de deputado. E já deu a entender que vai mesmo. Pedro Pinto e Helena LC já disseram que tomam posse mas se mantêm como vereadores, embora sem vencimento. Carmona já disse que, se for preciso, volta a ser Presidente da CML, mesmo que só por uns dias.
Imaginem a baralhada.
Vamos acompanhar os próximos episódios.

Carrilho

Não há nada que se lhe chegue, nesta espécie de campanha do contra-informação… Embora tenha sempre os fotógrafos por perto, e embora as sondagens (ou algumas) o favoreçam, há muito pauzinho na engrenagem a perturbar-lhe a paz.
Veio um dia à noite Jorge Coelho por entre bandeiras de encomenda e artifício e disse da tribuna, com aquela delicadeza e subtileza que se lhe tem de reconhecer: «Ó Bárbara, venha daí. A malta gosta de si!»
Habituada a outros ambientes e pouco dada a camaradagens, a senhoras deve ter tido vontade de fugir a sete pés. E parece que fugiu mesmo. Mas este grito de guerra de Jorge Coelho tem também outro significado: o homem está à rasca. Toda a gente o diz. É que para ele chamar por Bárbara, que está nos antípodas do que ele considera gente de campanha, algo o perturba muito a sério. Ele não acredita na tal sondagem.

Há mais

Mas há ainda pior na campanha de Carrilho: finalmente Manuel Salgado explicou por que é que afinal não aparece nas listas, depois de tanto barulho em torno do seu nome. A história vem escarrapachada no último ‘Expresso’ mas eu resumo-a aqui em 4 linhas.
Estava negociado entre Carrilho e Salgado: este seria o seu nº 2, vice-presidente, e largaria os projectos e o ‘atelier’. Ideias imensas que Salgado tinha produzido seriam uma das bases do tal projecto-programa eleitoral de Carrilho. Mas depois veio a política real, e Salgado nem sequer aprece na lista. Apenas é dado como apoiante. Sabemos agora que, pelo meio, Carrilho lhe propôs um «ofensivo» 4º lugar e falou do volume de negócios de Salgado na Cidade. Conclusão: para Salgado, há aqui “deficiências de carácter” que ele não perdoa, e retirou o seu apoio a Carrilho.
A seguir, vamos ver o PS a achincalhar Salgado, e este a não se ficar.
Uma história a acompanhar.

E há ainda mais

Carrilho não pára de surpreender. O seu nº 13 (número de azar) é o presidente da ‘Opus Gay’.
Não por mais-valias que possa trazer. Não pelo seu valor ou preparação técnica, política ou outra.
Não.
Descaradamente, por ser ‘gay’.
Portanto, uma discriminação, uma atitude «desigualitária».
De modo bem oportunista, «porque em Lisboa há muitos eleitores que são membros da comunidade ‘gay’».
Uma atitude bem longe de qualquer aquisição cultural.
Mais: um grande recuo cultural, que a comunidade ‘gay’ devia repudiar de imediato.
Assim, com discriminações estruturalmente incultas como esta, não vão lá.
É um atraso de décadas.

Arremesso

Santana Lopes usou o Ballet Gulbenkian como arma de arremesso simultâneo contra muitos: contra a Gulbenkian, ela mesma, contra a ministra da Cultura e o governo em geral, contra Carmona agora e contra quem ficar na CML para os próximos quatro anos… CML que não tem um tostão para mandar cantar um cego. É que Santana «ofereceu-se» para doar um milhão e tal para um assunto que necessita de 2,5 milhões por ano!! Quem vier atrás que feche a porta.

Agora, a notícia

Nas últimas 72 horas, não se tem falado de outra coisa: a Feira Popular já não é da CML.
Ou seja: uma parte, a CML entregou-a por permuta à Bragaparques/BES (?).
A outra parte, a CML entregou-a por aparente hasta pública… à Bragaparques/BES (?).
Aquele terreno, bem ali no centro, bem ‘filet mignon’, já era. Já andou.
Carmona é o pai desta entrega ao desbarato. O PS da CML é o padrinho. De notar que Santana Lopes não vai por aí: nem apareceu na hasta pública. Porque ele bem sabe que, de facto, este é um dos negócios do século, mas não o é para o erário municipal e, sim, para outros cofres…
E para aqueles que acham isto bom porque a CML encaixou um pouco mais de um milhão de euros, há que lembrar que este terreno, quando houver Plano para a zona, pode valer muito mais. Aliás, a Bragaparques já tem o seu projecto de rentabilização.
Mas esta «hasta pública», que de gasta pública a sério pouco teve, a meu ver, tem muito que se lhe diga.
Em primeiro lugar, as desistências.
Por coincidência, as duas propostas mais altas são retiradas.
Estranhamente.
Estrategicamente?
Em segundo lugar, as verbas.
Só 60 milhões (61, para ser mais exacto).
Em terceiro lugar, os documentos.
Há uma carta que requererá direitos de preferência que não terá sido do conhecimento da Assembleia Municipal.
Mau número.
Mau começo.
Espera-se que isto não caia em saco roto.
Finalmente, os comentários, que quero deixar fixados neste texto. Ei-los, quase sem comentários meus:
Helena Lopes da Costa diz que ficou muito feliz com o desfecho.
PS, PCP e Bloco da Assembleia e ainda o próprio Presidente da Assembleia Municipal dizem que não conhecem a tal carta. Então tudo é ilegal. (Então esta hasta pública não existe, do ponto de vista jurídico.)
Manuel Figueiredo diz que falta o Plano para a zona, e que sem isso a hasta pública não devia ter sido efectuada.
Vasco Franco diz que a diligência da hasta pública foi uma coisa boa para a CML porque encaixou uma verba maior do que se fosse uma venda directa. (Não resisto: que raio de comparação… venda directa? A CML não é uma empresa privada. Isto tem mesmo regras. Ou andamos todos enganados?)

Registo nacional
Governo / Empresa

Encontrei um amigo que, a sério ou a gozar, me dizia que não estava a par quando se falou do ‘mensalão’ brasileiro. Suponho que quase todos os leitores saberão do que se trata: o partido da esperança, o PT, no Brasil, partido dos trabalhadores e de Lula da Silva, o Presidente da República, está atolado num lamaçal de corrupções, peculatos, compra de votos de deputados e até de partidos inteiros. Todas as cúpulas do PT já se demitiram. A grande incógnita continua a ser se Lula sabia ou não. Tudo isso acontece desde que o PT alcançou o poder, esperança de milhões numa verdadeira mudança.
Mas o que é que isto tem a ver com o ‘registo da semana nacional’?
Tudo ou nada.
É que, com tudo o que se vai sabendo sobre as trocas e baldrocas de lugares de administração em empresas públicas e participadas pelo Estado, em institutos públicos e similares, já não se sabe onde pára a competência e começa a política de solidariedade entre os partidos de governo, isto é, os que têm estado no governo: PS, PSD e CDS.
Os cargos em questão têm todos uma coisa em comum: são muito bem pagos, as reformas são douradas, os privilégios (carros de alta gama, cartões de crédito, seguros e tal) são de diamante, o trabalho não é muito.
A verdade é que se nota claramente uma cumplicidade entre dirigentes dos dois partidos maiores.
A verdade é que em cada semana se sabem mais pormenores escabrosos: vou ali ao governo / volto para a empresa ou para o instituto / volto ao governo / regresso ao instituto ou vou para outra empresa, ainda mais bem pago / dou um saltinho ali ao governo… Etc. Etc..
Não se passa uma só semana em que não se saibam mais e mais coisas desta área. E cada uma pior que as outras.
Não pára. É uma roda-viva. E o povão a pagar. Não vale a pena camuflar.
Se isto não é um ‘mensalão’, então o que é um ‘mensalão’?
E não esquecer que as elites políticas dos dois partidos se têm tolerado neste rotativismo de forma bem cordata.
Pudera.
Governo / empresa / governo / empresa…
E os milhões a escorrerem sem cessar para as contas bancárias dos que depois ainda vêm mandar bocas na televisão: é preciso cortar mais nos salários, cada um devia dar 10% do seu ordenado, etc..
E os políticos dirigentes dos dois partidos do nosso «centrão» a dividir benesses entre eles, e com os amigos e com os filhos dos amigos e com os primos dos próprios, que são sempre muito bons tecnicamente. E todos a fiscalizarem-se mutuamente para ter a certeza de que o bolo é sempre bem dividido. Mas não se chateiam uns com os outros, isso não. Nem se denunciam uns aos outros, isso não.
E por que é que se haviam de chatear? Por que é que se haviam de denunciar uns com os outros?
Ou há moralidade ou comem todos, costumamos dizer.
Parece que ‘comem’ todos do mesmo bolo nacional, para onde nos pedem mais contributos, sempre mais contributos, sempre mais…
E mesmo quando parece que a coisa aquece, ainda isso faz parte do cenário: é mesmo para parecer que a coisa é a sério…
Tem de haver, tem mesmo de haver um grande jornalista de investigação de um grande órgão de comunicação social de referência que investigue tudo de uma vez e nos diga numa só edição como tem sido nos últimos vinte anos, com os nomes todos, os ordenados, as mesuras, tudo, tudo, tudo.
E, depois, publica-se um livro que vai ser o maior sucesso editorial dos últimos anos em Portugal. Eu ajudo a encontrar editor, garanto desde já.
Venha de lá essa coragem.