segunda-feira, junho 13, 2005

Jornal das 11 / 13 de Junho

Dinis

Coitada da criança. Não tem culpa nenhuma. Mas a sua utilização é lamentável. Só mesmo Emídio Rangel, embora com declaração prévia de interesse, é verdade, para vir discordar do seu próprio e habitual bom-senso, para agora achar muito bem, a família do homem estava lá (só faltou dizer isso também, como outros: «estava lá por acaso».

Sul-americanos, nós?

Digam-no-lo, já agora, tenham essa coragem, tenham a coragem de dizer que não foi o brasileiro, o outro, quem engendrou este vídeo à América Latina).
É a sul-americanização desbragada, como raramente se viu.
É uma coisa a fazer-nos recordar os adjectivos usados por António Barreto naquele célebre texto que deu processo de que agora Carrilho desiste para que não se fale da adjectivação: Carrilho é oco, vazio, «sem qualidades», «pavão», «rasca» «bronco», «sonso»…
Será mesmo? Duvido. Mas foi escrito.
Com o que se tem passado na campanha, e com o próprio PS de Lisboa já em polvorosa, mas a ter que engolir sapos, elefantes ou crocodilos – tudo o que Carrilho quiser a partir de agora, acho que sim, que se não é parece oco, vazio, «pavão».

Dinis

Mas “a(s) criança(s), Senhor, para quê tant”o abuso?
«Tirando a família, não se vislumbra uma razão para votar neste vazio de ideias», exagera um (Paulo Baldaia), no ‘DN’.
«Há sondagens que me dão vantagem sobre a outra candidatura», diz outro (Carmona) não neste quadro, mas para dizer que sozinho mais PSD vale mais do que PSD com Carmona, e também mais do que Carrilho com PS – que é o caso vertente, embora sem explicitude formal: é uma lista de Carrilho apoiada pelo PS...

Insegurança

Neste caso, tirando Rangel, ninguém mais teve dúvidas do que quis dizer este vídeo familiar: Carrilho não tem confiança na sua candidatura, agora, passada a arrogância inicial, aquela arrogância que o PS mostrou ao PCP nos mais de 30 dias que levou em silêncio para dar uma resposta à proposta de coligação e naqueles três dias entre aquela quarta e e aquela sexta-feira lamentáveis, quando, estando o PCP calmo à espera de respostas aos pontos que colocara em cima da mesa, e que supostamente poderiam e deveriam, aí, sim, ser dadas com alguma ponderação e que se acordara que seriam dadas até terça-feira seguinte, mais ou menos, pois bem, aí houve a pressa de mostrar toda a arrogância e fazer tábua rasa das propostas essenciais… e colocar, isso sim, aquilo que já se leu, como se a reunião de quarta-feira não tivesse existido e como se o PCP valesse zero na coligação. Dessa vez, não houve se não arrogância.
Hoje, só balofice.

Dinis

Só tenho pena é do miúdo.
Se ele crescer sem se fazer oco e balofo, há-de concordar comigo um dia: isto foi um erro e uma violência.
E mais: fica claro que, agora, com coisas destas na campanha, sul-americanizada e balofa, já não é a arrogância e auto-suficiência que comandam Carrilho. Agora, já não se exibe empáfia. Agora, não há se não o reconhecimento de que está ameaçada a votação e vai de puxar dos trunfos todos, sem lei nem roque, digamos assim.
Agora só se vê a insegurança e os incidentes permanentes desta campanha de Carrilho.
No entanto, cada qual organiza-se e organiza os trunfos que julga ter.
Volto ao meu ponto.
Porque “a(s) criança(s), Senhor, para quê tant”o abuso?
Esta criança vai crescer.
E um dia vai ter vergonha disto.
E não só.

Barreto também

Um dia há-de ter vergonha de o pai (Manuel Maria Carrilho) ter desistido em 2005, a meses das autárquicas – concorre para Lisboa – de um processo que movera a António Barreto, seu ex-camarada no PS, por este ter escrito em 1999 que o Carrilho-ministro-da-Cultura era «um homem sem qualidades», «um ministro rasca», e ainda: «pavão», «grosso», «bronco» e «sonso». Agora, Carrilho desiste da queixa. Só para que os adjectivos não venham outra vez na comunicação social… Mas então o que era ofensivo há seis anos, deixou de o ser? Onde está a vergonha, Dinis, já que me foste apresentado sem que o desejasses? E por que será que ainda não balbucias «Mamã, mamã, tira-me deste filme»? Um dia hás-de ter vergonha por o papá, dois dias depois de te ter apresentado a mim, ter desistido da queixa contra as ofensas de Barreto, o que te envergonhará também a ti.


Carmona

Em papel timbrado da CML ficámos a saber, por uma assessora talvez ainda paga pela CML mas que se apresentou à sociedade como assessora da campanha eleitoral de Carmona, que Carmona, o sobrinho-neto de Carmona, Presidente da República de Salazar, Carmona, escrevi, não vai coligado com o CDS. Por que será? Diz ter estudos que lhe garantem a vitória sozinho, melhor do que em lista do PSD. Tais estudos devem ter sido feitos no Congresso do PSD.


A verdadeira verdade

A verdade é bem outra. Carmona está numa coligação de federadores do PSD, num arco de morte que vai de cavaquistas a barrosistas, de António Borges a Leonor Beleza. Uma coligação instigada por Álvaro Barreto, garante-se nalguns círculos em Lisboa.
Uma coligação que agora protege Carmona, que já se serviu de Santana para subir e ser conhecido. Que há dois anos ninguém conhecia. Que em dois anos esqueceu do seu apregoado amor ao ensino, à docência. E que foi levado aos ombros, embora não em ombros, para o Congresso do PSD por Marques Mendes a quem, assim, agora, dois meses depois, já deu o primeiro pontapé no traseiro, como se lhe dissesse: «Concorro por mim, sem ti, como independente, sem o teu PSD, mesmo que apoiado pelo PSD e não em lista do PSD, porque sozinho valho mais do que o teu PSD e muito mais do que se me apresentar coligado com o (actual) PSD e com o CDS». É como se dissesse isto. O que ofende e deixa para trás várias questões do seu relacionamento político.
E como é que apoiado por um partido, o PSD, é bom, e apoiado por dois, PSD e CDS, seria mau? Não se entende, porque não é isso. As razões são outras. Bem outras. E Marques Mendes, naquela tarde, bem as entendeu. Mas teve de engolir e transformar o desgosto em vitória. Percebeu-se muito bem.
Não colhe essa de o eleitorado ser contra coligações.
Veja-se Lisboa, 1989, 1993, 1997 e quase-quase 2001… Não foram os votos que uma juíza diz terem sido ‘desviados’ – falemos assim, para sermos educados e para não sermos carroceiros do tipo Alberto João Jardim…


Carmona e Santana

E, no meio de tudo isto, onde ficou Santana? É que Carmona descolou de quem lhe deu a mão e o trouxe para a ribalta, de forma muito ofensiva. «O eleitorado distingue bem quem é quem», disse. Isso, aliás, disse-o de forma mentirosa. Porque, ao contrário do que fazer crer, ou seja, que não tem nada a ver com esta gestão, Carmona está enterrado nela profundissimamente, como vai ficar demonstrado daqui até Outubro, pelo menos por Ruben de Carvalho e pela CDU. Vai ver.
Talvez ainda nos surpreenda. E, com a raiva que agora tem a Mendes, talvez faça ainda das tripas coração e apareça nesta coligação negativa, com Belém no horizonte, se Cavaco se ficar e se Marcelo se assustar.

É nesta baralhada que está Carmona, o sobrinho-neto.


Registo

«Já as comemos com pão»

As promiscuidades dos políticos. Já as comemos com pão. Vejam lá se é ou não é. Ainda aqui há uns tempos foi um grande escândalo quando Santana Lopes fez sair um comunicado partidário em papel timbrado da câmara de Lisboa. Posta a questão, afinal tinha sido um assessor, e tal. Apesar de tudo, ainda era uma demonstração de simulacro de vergonha na cara. A semana passada, Carmona Rodrigues, que é ‘vice’ lá, usou papel timbrado da mesma câmara para dizer como é que se vai candidatar como independente apoiado pelo PSD. Nem estrebuchámos. Já as comemos com pão. Já nos habituámos. Porque, pelo meio, fomos sabendo das várias promiscuidades de membros do governo Santana Lopes com grandes grupos financeiros e até já calámos coisas como um Pina Moura-deputado a ser também membro da administração da Galp e da Iberdrola, empresas com ligação ao Estado num caso e com negócios com o Estado no outro. E já engolimos como se fosse normal que Carrilho se sirva da mulher e do filho para subir. Dantes falava-se que isso era subir na horizontal, e era mais usado para referir alguns casos célebres de mulheres que usavam a cama como escada social, económica ou política. Agora, já não estranhamos. Já as comemos com pão. Força, Carrilhos. Força, Bárbaras. Força, Pinas. Força, Carmonas. Não hesitem. O mundo está a vossos pés… Bem-idos à promiscuidade…


«… O deputado não aguenta»

Os deputados do PS ficaram muito preocupados e revoltaram-se quando foi feita por Sócrates esta última tentativa para nos convencer de que toca a todos: veio primeiro o homem do «Quem se mete com o PS, leva» e disse: «Chegou a hora. Agora é para todos, incluindo a banca e as seguradoras»; veio depois a banca e disse: «Achamos muito bem», o que levou toda a gente a desconfiar; veio depois o próprio Sócrates ele mesmo e disse: «Vá, senhores deputados, agora é a vossa vez»; aí, dizem os jornais, os deputados do próprio PS entraram em estado de revolta contra isso de «Agora é a vossa vez». Depois amainaram. Mas, pelo meio, dizem-me, deve ter havido quem tivesse a ideia de convocar uma concentração-manifestação de deputados para a porta da Assembleia da República, a sua própria casa-mãe, agora, julgam eles, casa-madrasta. Para essa manifestação escolheram uma palavra de ordem óbvia: «O custo de vida aumenta / O deputado não aguenta».
Entretanto amainaram e desistiram da concentração.