sexta-feira, junho 18, 2010

Saramago

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A 7 de Abril de 2005 escrevi aqui:

José Saramago surpreende outra vez: editou uma espécie de libreto para ópera cómica. Acabaremos por conhecer esta obra pelo seu primeiro título: «Don Giovanni».
E, sobre este libreto, o autor faz-nos um desafio: pede-nos ele que o leitor imagine a música que o libreto está mesmo a pedir, pensa ele.
Só mesmo ele.
Não resisto a Saramago, confesso.
Esta atracção pela sua escrita aconteceu-me, pela primeira vez, há muitos anos atrás. Foi um «flash» intelectual e físico, aquela leitura sem interrupção, doentiamente entusiasmada. Confesso: uma verdadeira paixão.
O prazer de ler, pronunciando cada letra, sabe? O prazer de mastigar com gosto cada som. Prazer físico de ler, consegue imaginar? Pois bem: foi isso que me aconteceu naquele ano, há tantos anos, quando José Saramago deu à luz o «Memorial do Convento». Sei que na altura cheguei a tornar-me aborrecido para quem estava comigo na praia: os meus amigos mais próximos. Já se viu alguém massacrar as pessoas, lendo em voz alta um livro? Pois, bem: confesso: foi isso que fiz. Dava-me «pica», como agora diz a malta mais nova (e sem malícia nenhuma os oiço dizer). Dava-me um gozo tremendo aquela sonoridade, aquela descoberta da leitura sem sinais gráficos – e descobrir que afinal era possível escrever daquela forma e trazer toda a alegria da leitura para dentro de «um simples» livro. Tão simples, que valeu o nosso Prémio Nobel da Literatura. Por mim, não hesitaria em atribuir-lhe o meu próprio prémio da boa escrita e da boa inventiva literária…
Vou agora ler o seu novíssimo «Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido». São 135 páginas, custa 7 euros, é da Editorial Caminho e foi editado agora em Março.
E, prometo desde já: fico à espera do seu próximo trabalho. Já tem título: «As Intermitências da Morte». E sai em Novembro.
Até lá, Saramago.

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