sexta-feira, abril 08, 2005

Jornal das 17 / dia 7 de Abril

Cartazes: devagar, devagarinho

Como Santana Lopes e Carmona andam de candeias às avessas, porque Carmona se fartou de aparar o jogo sem-fim de Santana, quem sofre é a Cidade, que agora está mesmo parada. Lamentavelmente, agora, até o «site» da CML e o ‘blog’ de Helena Lopes da Costa pararam…
Mas a Cidade parada confrange.
Ninguém para decidir. Uma presidência bicéfala foi no que deu, misturada com o veto de Marques Mendes ao nome de Santana para a candidatura à CML, e a entrevista de Carmona ao «DN» dizendo que é melhor opção do que Santana… foi no que deu, tudo junto.
Para cúmulo, as coisas mais simples emperram. Por exemplo: Carmona tinha prometido que, em Março, os «outdoors» desapareciam da floresta que está patente em Lisboa. Chegou Santana e os «outdoors» aí estão direitinhos, a ser retirados a passo de caracol.


Prémio «Pronto, então já não há problema»

Lembram-se das promessas encavalitadas umas nas outras? Deram conta de alguma ter sido cumprida? Eu também não.
Mas agora é que é.
Os «grafitti», está a ver?
A CML promete que basta um telefonema e… adeus, grafitti!
E quem é que tal promete, quem é?
O vereador do CDS, titular do pelouro da higiene urbana.
Ainda se ao menos se olhasse para a Cidade e se vissem as ruas limpas…
Mas lá diz o Povo: prometer não custa mesmo nada.

Artistas Unidos

A notícia não é que os Artistas Unidos vão abandonar já o Teatro Taborda. Isso vai acontecer em Agosto. Mas a notícia é outra: o secretário de Estado da Cultura está a descortinar um novo espaço para o grupo de teatro.

Abandono

Não são só as ruas, as calçadas, os jardins, as áreas de lazer. Não o abandono já tomou conta também dos equipamentos desportivos municipais em Lisboa.
Que o Pavilhão Carlos Lopes não está nas boas graças da CML, isso já se percebeu, embora não se perceba porquê.
Mas que com outros casos aconteça o mesmo, isso já é menos claro. Mas ainda bem que a Assembleia Municipal visitou alguns desses equipamentos e no fim contou, pela voz de Paulo Quaresma, coisas como esta: «O Pavilhão Municipal da Boavista é ocupado durante três horas por dia. Nas restantes está ao abandono».
Somos de facto um país rico, uma cidade rica, que se dá ao luxo deste abandono…

Registo

Saramago!

José Saramago surpreende outra vez: editou uma espécie de libreto para ópera cómica. Acabaremos por conhecer esta obra pelo seu primeiro título: «Don Giovanni».
E, sobre este libreto, o autor faz-nos um desafio: pede-nos ele que o leitor imagine a música que o libreto está mesmo a pedir, pensa ele.
Só mesmo ele.
Não resisto a Saramago, confesso.
Esta atracção pela sua escrita aconteceu-me, pela primeira vez, há muitos anos atrás. Foi um «flash» intelectual e físico, aquela leitura sem interrupção, doentiamente entusiasmada. Confesso: uma verdadeira paixão.
O prazer de ler, pronunciando cada letra, sabe? O prazer de mastigar com gosto cada som. Prazer físico de ler, consegue imaginar? Pois bem: foi isso que me aconteceu naquele ano, há tantos anos, quando José Saramago deu à luz o «Memorial do Convento». Sei que na altura cheguei a tornar-me aborrecido para quem estava comigo na praia: os meus amigos mais próximos. Já se viu alguém massacrar as pessoas, lendo em voz alta um livro? Pois, bem: confesso: foi isso que fiz. Dava-me «pica», como agora diz a malta mais nova (e sem malícia nenhuma os oiço dizer). Dava-me um gozo tremendo aquela sonoridade, aquela descoberta da leitura sem sinais gráficos – e descobrir que afinal era possível escrever daquela forma e trazer toda a alegria da leitura para dentro de «um simples» livro. Tão simples, que valeu o nosso Prémio Nobel da Literatura. Por mim, não hesitaria em atribuir-lhe o meu próprio prémio da boa escrita e da boa inventiva literária…
Vou agora ler o seu novíssimo «Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido». São 135 páginas, custa 7 euros, é da Editorial Caminho e foi editado agora em Março.
E, prometo desde já: fico à espera do seu próximo trabalho. Já tem título: «As Intermitências da Morte». E sai em Novembro.
Até lá, Saramago.

Facada a facada

Santana Lopes queria adiar o Congresso do PSD por causa da morte do Papa. Caíram-lhe todos em cima. Que não. Que não se justificava o adiamento. Que o partido não podia continuar sem rumo. Etc..
Mas uma facada nas costas nunca vem só.
António Borges, o economista do sucesso do momento, vem agora dizer com as letras todas aquilo que já se sabia: vai candidatar-se à liderança em 2007.
Tenho cá para mim que isso acontecerá ainda antes disso: quando Marques Mendes se mostrar incapaz de derrotar o PS e de conduzir aquilo que os seus adversários internos da altura vão chamar de «incapacidade de fazer oposição séria ao governo do PS». Prevejo que será nessa altura. Em poucos meses, o PSD prepara um novo Congresso, elege Borges e arranca para o poder.
É fatal como o destino: Marques Mendes não vai aquecer muito o lugar. Depois das Presidenciais falaremos.