É muito raro, mas por vezes acontece-me: emociono-me mesmo a sério. Foi na Rua do Ouro. Na rua, mesmo. Ao telefone. Por caminhos que caminho, tive de ligar para alguém que me conduzisse a alguém. E eis que chego à fala com esse primeiro alguém. Palavra puxa palavra. Angola para cá, Luanda das nossas nostalgias para lá. Tudo normal até aqui.
De repente, a bomba: sai-me do outro lado da TMN uma pessoa que... imaginem... foi o comandante operacional da Zona Militar de Cabinda pelo MPLA, sediada na base de Dolisie, República Popular do Congo - vulgo, Congo Brazzaville.
Mas esse não foi o grande motivo da minha emoção. Ainda não. Mais um passo, nova pergunta minha:
- Então conhece Cabinda.
Resposta:
- Como a palma das minhas mãos.
Hesito. Vinha aí a minha emoção. Não sabia ainda, mas vinha. Surgiu logo na resposta à minha natural pergunta:
- Então, se calhar, conhece ou conheceu o Comandante Mabonzo que fez as pazes connosco, no Bata-Sano, a 26 e 27 de Abril de 74.
- Conheço muito bem. Fui instrutor dele.
Aí, deu-me mesmo aquele aperto. Perguntei:
- Ele é vivo?
Respondeu: - Sim.
Eu pedi:
- Pode dar-lhe um abraço quando o vir? Ele não se lembrará do meu nome, mas de certeza lembra-se de mim: depois do 25, ele contou-me que num certo dia tinha a arma apontada a mim numa subida de Buco-Zau para o Dinge, eu no Unimog com o meu grupo de combate e ele na mata emboscado com o seu, e que não disparou porque era eu e o meu grupo todo de fita branca no tapa-chamas da G3... E outra história de que ele se lembrará é a da noite em que, mais de meia-noite, o médico e vários amigos meus, na ambulância para não serem atacados, me levaram café ao meio da mata - e ele, Mabonzo, com o seu grupo, estava ali mesmo emboscado, a guardar-nos, segundo me contou... depois, quando as pazes já estavam feitas, disse-me que lhe tinha apetecido ir ter connosco a pedir-nos café... E eu disse apenas: Mas porque não foste. Claro que te dávamos o café...
O meu interlocutor acho que estava quase tão apardalado com a minha história como eu estava excitado a contar, a contar...
O meu interlocutor acho que estava quase tão apardalado com a minha história como eu estava excitado a contar, a contar...
E, não tenho vergonha nenhuma de confessar: num dado momento, vieram-me umas aguazitas aos olhos.
Foi em Lisboa hoje, mas foi em Cabinda há 34 anos e um mês, quase.Bom dia para si também, leitor.
3 comentários:
Desculpe lá "meu" alferes, mas acho mais credivel o prof. Mamba que o comandante Mabonzo.Ele pronto para um ataque na subida para o Dinge? Não seria um ataque de "mirui"?
Acho que o tipo perdeu a única opurtunidade que teve de ficar na história ou seja atacar uma coluna na subida para o Dinge!
Um abraço deste "seu" 4910
Perdão, queria dizer oportunidade.
Mais um abraço deste 4910.
E por acaso, o BC4910, não lhe diz nada?
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