domingo, junho 23, 2013

Profanação

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EDITORIAL
ESTA PALAVRA ESPERANÇA

O ministro Maduro ontem veio garantir uma coisa da pior forma que o podia fazer:
«Queremos oferecer esperança aos portugueses».
«Queremos oferecer» é «nós, o governo», claro.

Vê-se logo que se trata de uma manobra artificial e muito mal disfarçada.
A mentira tem uma mão com que tapa e outra com que destapa - dizem na minha terra.

Ou: fugiu-lhe a boca para a verdade.

Explicando:
1. Há de facto muita falta de esperança entre nós.
2. Precisávamos, de facto, de esperança.
3. Mas é tudo ao contrário: a esperança seria em que algo mudasse. Ora se há algo de que temos a certeza é: Passos e Gaspar não querem mesmo mudar.

Lá se vai então a esperança.
Pelo menos a esperança que se tem, que se ganha, que se obtém por conclusão própria.

I
A esperança não se oferece: ou se tem ou não se tem

É que se algo que não se dá, que não se pode oferecer como se de um bolo se tratasse, é exactamente a esperança.
Essa, só a podemos retirar por nós mesmos a partir da realidade que está à nossa frente.
Ora, a realidade que está à minha frente é esta: se vamos pelo mesmo caminho, não há razão para esperanças.
Por outras palavras mais simples: ao eleitor anónimo que eu sou não se dá esperança, não se pode dar esperança; o eleitor tem ou não tem esperança; então, o que se dá ao eleitor, o que se deve dar quando se é poder, são as razões para ter esperança.
Mas essas, o senhor ministro não as dá - porque não as tem.
E lá no fundo bem o sabe.
Por isso ma quer dar.
Só que isso é uma impossibilidade cósmica, contra a qual nada podemos fazer no quadro actual: nem ele nem eu, eleitor anónimo.

II
Temos esperança, sim

Claro que nós todos temos esperança - mas é de que isto mude.
Seja por consequência das eleições alemãs, seja porque a UE conclui o óbvio: que é preciso mudar de rumo.

Vir Maduro oferecer-me esperança sabe-me a algo artificial - vejo logo que ele quer obter um resultado (ser simpático comigo), mas que não cola nada com a realidade.
Portanto, foi mais um tiro no pé.
Oferecer não dá com esperança, senhor ministro.
Esperança dá com perspectiva de melhoria, não com a sua vontade de estar de bem comigo, eleitor anónimo.

O que leio tem para mim o valor de nada.
Pior: tem o valor de um engodo, um engano, uma armadilha.
E é até uma espécie de profanação da palavra esperança.

E permita que, do alto dos meus 40 anos de comunicação eleitoral e outra, lhe anteveja pouco futuro.
É que se vai ser assim nos seus 'briefings' diários com a imprensa, mais valia estar calado.

É também assim que eu, eleitor anónimo, sinto a coisa.
Conclua como entender. Mas conclua, por favor.
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