sábado, dezembro 29, 2007

Coitados dos autarcas: com eles é mesmo «preso por ter cão, preso por não ter»...


(Não sei se vou conseguir transmitir-lhe toda a força do que estou a pensar há mais de uma hora. Valha o esforço. Você vai perceber a questão, apesar deste aviso prévio e sincero).

Ao longo da minha vida, isto já me aconteceu várias vezes: ouvir uma simples conversa de café e chegar a casa a pensar que os autarcas, se são bons autarcas, têm sempre muito quem goste deles e muito quem os avalie de forma errada. O caso de hoje é um desses. Estou em Sesimbra. Em Alfarim, a câmara local está finalmente a instalar o saneamento. Hoje, pelas 21, depois de uma ida ao mar (mais uma) ver as ondas fortes desta noite, parei num café no centro de Alfarim. Sete ou oito cidadãos discutiam... isso mesmo: o saneamento. Tom geral: «Isto não é tudo público. Isto não é tudo camarário». Fiquei de ouvido alerta. Ouvi imensas injustiças relativas a uma obra meritória e urgente que só peca por estar atrasada uns... 30 anos. Vai um e diz: «Os tubos têm de passar mas é lá por baixo». E outro: «Nem pensar. Tem que ser cá por cima». Vai mais um e, já quente: «Mas isto é tudo deles?». E o do lado: «Vão ter de recuar os muros». Outra voz: «Se entrarem pelo Zé do Moinho (nome fictício) é que está bem». Volta então o mesmo que já estava a aquecer e fala assim, ao mesmo tempo que apaga o cigarro na palma da mão (até me arrepiei, ele deu conta e encolheu os ombros como que a dizer-me: ««Sou capaz disto e de muito mais»), e fala assim: «Por um palmo de terra são capazes de se matar uns aos outros».
E eu cá com os meus botões, enquanto bebia o resto do descafeinado: coitados dos autarcas. Coitados mesmo. Como é que vão explicar isso do bem público a uma pessoa que, com a maior das calmas, apaga o cigarro na palma da mão sem pestanejar? Por um lado, têm de fazer a obra. Mas por outro têm de estar sempre atentos à reacção popular e negociar, negociar muito com as pessoas. E, mesmo assim, ainda têm de expropriar por utilidade pública quando não é possível o acordo... Aí fica tudo contra eles... Coitados.

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