A culpa é do sistema
Todos sabemos como é que os homens do futebol se desenrascam sempre que se começa a falar de coisas sérias. A culpa é do sistema. É um linguajar que já ganhou direitos de alforria. Chama-se «futebolês».
Hoje os sites estão cheios de uma atoarda de Vitalino Canas.
Diz o homem que as faltas dos deputados só se resolvem... mudando o sistema de votação e mesmo alterando o regime parlamentar.
Não sei bem se ele quis falar mesmo de regime. Há quatro de base, aprendi nos banquitos da FDL: presidencial (como nos EUA), parlamentar (como no RU), semi-presidencial de incidência presidencial (como na F) ou semi-presidencial de incidência parlamentar (como na I). Vide Maurice Duverger...
Bom, mas lá que o homem disse que a culpa é do sistema, isso disse. E sabemos do que quis falar: do modo de constituição dos órgãos electivos, sobretudo a AR. Ou seja: quer Vitalino dizer que tudo seria bem melhor se esses titulares dos órgãos electivos colegais fossem eleitos de forma unipessoal, cada qual representando seu círculo eleitoral, pelo método eleitoral chamado maioritário (é eleito aquele e só aquele que obtiver mais votos e pronto), tudo seria mais reponsabilizante: o deputado dá a cara aos seus eleitores, responde perante eles, que o não voltarão a eleger se falhar...
O nosso «sistema», como diz ele que não leu ou se leu não percebeu Maurice Duverger, que é o proporcional (método de eleição - não «sistema»), o nosso método eleitoral proporcional leva à des-responsabilização, diz Vitalino que pensa. Mas não pensa. Porque não é burro. E sabe muito bem que a única coisa que responsabiliza é a pedagogia democrática e intensa dos partidos todos. Aliás, é ver no que dá o método maioritário no Brasil. É ver o mensalão. Para só falar de um caso bem conhecido.
O problema é que Vitalino, que é político, meteu-se a falar futebolês e deu em salganhada.
Assim, não vale!
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