Esta palavrinha «passado»

.

Editorial

.

Leio no JN que Santana Lopes foi convidado pelo American Club para falar. Claro, falar de si. Diz assim Isabel Teixeira da Mota: «Convidado para defender o planos da sua candidatura à câmara de Lisboa, o ex-autarca socorreu-se de um power point pelo qual mostrou a evolução das contas camarárias da capital nos últimos 20 anos. "Se falo nisto é porque as coisas têm que fazer sentido, têm de ser tratadas com verdade".
Santana disse acreditar que "as pessoas votam pelo presente e pelo futuro. Não votam pelo passado". Por isso não se deteve muito a falar do seu mandato à frente da câmara de Lisboa.»

Como é que eu começo isto? É que SL é um poço de contradições até nas coisas mais banais. Nisto por exemplo: traz uma bateria tecnológica para a sala, dá-se ao trabalhão de alguém preparar em power point uma data de números e de datas e de barras e de linhas quebradas e de slides magníficos e retocados a referir sistematicamente o passado. Designadamente o passado financeiro da CML, fabricado pela sua candidatura. Com que fiabilidade, não sei, mas presumo: por tudo o que vi em seis ou sete anos, acho que nem corro risco nenhum de errar se disser que com credibilidade nenhuma. Mostra algarismos atrás e algarismos. Não para demonstrar mas para subsumir, subentender, submostrar, subdemonstrar (como faz na lamentável sequência de slides da etérea abertura do seu chamado «site de campanha»). E depois atira de repente: «Não quero falar do passado. É só porque as coisas devem ser tratadas com verdade». Ou, na sua linguage,m escorregadia e de acordo com a repórter: "Se falo nisto é porque as coisas têm que fazer sentido, têm de ser tratadas com verdade".

Dá-se àquela trabalheira e depois diz que se fala é porque não sei o quê. Ainda por cima sempre com um sofisma subjacente: o que diz querer demonstrar é o seu ponto de partida e não de chegada: vai buscar as contas dos últimos 20 anos - deve estar a querer declarar-se herdeiro de Krus Abecasis... Mas negá-lo-á na primeira esquina na mesma linguagem húmida ao estilo do futebolês do género «Não me comprometam»...

E depois aquela coisa tãããão querida de levar 20 anos em power point a acabar a coisa a dizer que isso não interessa porque as pessoas querem é saber do futuro e não do passado: "As pessoas votam pelo presente e pelo futuro. Não votam pelo passado"...

Há aqui um qualquer sintoma de bipolaridade que me deixa de pulga atrás do ouvido.
20 anos de contas de que, diz SL, as pessoas não querem saber? As pessoas não querem saber ou SL não quer que se saiba?

Bem me parece é que este concreto passado vai ter muito - mas muito mais - para nos ensinar e que ninguém vai querer que volte.

.

Ora, quanto a Contas da CML, a verdade é muito mais densa do que esta fumaça que SL levou ao American Club. Os empresários e fornecedores que andaram anos à espera que o digam.

As instâncias de supervisão já o disseram.

O Tribunal de Contas já por duas vezes chumbou contas do tempo de SL.

Os números relativos à dívida são assustadores.

De menos de 400 milhões de dívida total em finais de 2001, passou-se para perto de 1 500 milhões nos seis anos de governança PSD, 80% dos quais estando SL aos comandos da CML.

Factos, meu caro Watson. Uma chateza.

Números reais impossíveis de baratinar: uma chatice.

.