.Santana agradece - mas engana-se....200 pessoas querem convencer-me de que procederam bem em avançar para um acto público convocando aquilo a que chamam «a esquerda» para uma coligação pré-eleitoral em Lisboa.
Acho que tal iniciativa dos chamados «renovadores» - ou lá de quem foi - constituiu um tiro no pé de António Costa. Para quem diz que o quer apoiar, não está nada mau para começar.
Passo a explicar.
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Primeiro, o resultado prático. O que é que hoje está melhor para a candidatura de António Costa? Nada.
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Depois, as motivações. A mim pareceu-me que o que esteve em cima da mesa não foi nada do que se disse que estava. Estarei enganado, mas tudo me pareceu muito mais claro e mais interessado / interesseiro. Até porque este objectivo (coligação), no que se refere ao PCP, já foi posto de lado - e com profundas razões que inlcuem o que se tem passado em Lisboa, mas que vão muito para lá das questões locais. Como, aliás, repetidamente já referiram em declarações publicas Jerónimo de Sousa, Carlos Chaparro, Ruben de Carvalho ou Modesto Navarro. Não foi fechada a porta a um entendimento CDU-PS depois das eleições. Mas... coligação pré-eleitoral, não. É neste pé que se está. Isso não pode ser ignorado. Ignorar isso e aparecer na ribalta até parece arrogância, desconsideração - estou farto de pensar nisso e de pensar como é que pessoas que tão bem conhecem esta questão fizeram um erro destes. Ou será que não foi erro e foi antes uma decisão consciente e premeditada? E, se foi, porquê e para quê?
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Ainda e sempre a questão de Santana. Haverá santanistas que pensarão por ingenuidade que se a «esquerda» está aflita, isso é bom para Santana e até pensarão que então, se a «esquerda» está aflita, Santana já ganhou.
Santa ignorância.
Desde logo porque nem toda a esquerda está aflita. Pelo contrário: da parte do PCP e do PEV, bem como dos independentes que compõem a CDU, a calma e a firmeza são a linha de rumo. Que saiba, ninguém nunca referiu qualquer hipótese de em caso algum Santana ganhar Lisboa. «Ninguém volta ao local do crime impunemente» - isso, sim, oiço muita vez.
Santana não ganhará Lisboa.
Não, desta vez. Independentemente de eu não ter a certeza de que ganhou daquela vez. Nunca o saberemos. João Soares não quis contestar os resultados.
Santana não ganhará Lisboa pelos monumentais erros de gestão e pela gestão ruinosa em que meteu a Câmara.
Esta é uma análise política. Nada tem a ver com as pessoas que o acompanharam.
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Finalmente os emissários. Todos são livres. Mas se se queria obter algum resultado no quadro anunciado, não me parece que este fosse o meio, o carteiro indicado. Se alguém quiser dialogar comigo, a última coisa que deve fazer é mandar lá a casa como emissário aquele meu primo sacana que há uns anos me tramou e que ficou de castigo da minha parte: nunca mais lhe dirigi a palavra. Quem mo mandar lá a casa para qualquer acordo, já perdeu a parada.
Os ditos renovadores estão nesse caso e não são emissário. Recordo aqui o que Carlos Chaparro já afirmou: o PCP não foi oficialmente contactado pelo PS. Isso, independentemente do bom sucesso ou do fracasso de qualquer diligência oficial do PS no sentido da coligação pré-eleitoral, claro.
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Ou seja: considero que estamos objectivamente perante um lamentável erro estratégico, independentemente das intenções.
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Resumindo: esta iniciativa - venha de onde vier - pode ter tido visibilidade mas não foi bem engendrada em função do resultado que se disse que se queria obter. Foi pois um tiro no pé. E é pena, digo eu, observando a coisa do lado de dentro, do lado do PS-Costa, por «imaginação científica».
E como é que me querem convencer de que estão na senda de uma coligação, quando as declarações públicas e a composição do grupo conhecido apontam num sentido unidireccional («apoiar Costa», como é dito e repetido à exaustão)?
Isto não é também um erro táctico?
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Actualizo:
Não acha que este título prova até bem demais uma das minhas preocupações? Porquê dar tanta importância à candidatura de Santana? E depois, acrescento, já agora: mais uma vez Sá Fernandes a meter-se... Mau número. .