terça-feira, maio 16, 2006

Lisboa a retalho

Urbanizações e construção tomam conta

Tome nota do que aí está em cima das mesas. Em primeiro lugar, pense: há muito dinheiro em Portugal, na mão de umas centenas de pessoas que dipõem de biliões para especular. Onde houver cheiro a lucros altos e muito altos, eles já lá estão. Em segundo lugar: bocados da Cidade como a Penitenciária despertam logo muita cobiça da parte dessas centenas. Os milhões de simples mortais nem acreditam e passam o tempo a pensar que não senhor, não há dinheiro para isso. Isso, é a venda da cidade a retalho: Alto do Parque, hospitais que vão ser desactivados (IPO, S. José, Desterro, etc.).
Mas vamos por partes, que a coisa é bem mais séria do que parece. Esta situação, se vista em conjunto, define uma inteligente estratégia que aí está em marcha. Na CML não há dinheiro para madar cantar um cego. Então façam-se planos, planos, planos. Muitos planos.

Da parte da CML
Eis o principal:
1. Beira- Rio
Ajuda: plano para a zona em torno do Palácio.
Alcântara: várias zonas. Antigo Pão-de-Açúcar, instalações municipais do triângulo 24 de Julho / Rua de Cascais / Av. Índia, Boavista, zona das «torres» de Siza Vieira, agora substituídas por outro programa.
Áreas da APL: vários projectos em marcha, ao longo do Rio.
Braço de Prata: o célebre enorme projecto de Renzo Piano.
Matinha: pelo menos dois planos - agora agrrados, dependentes da aprovação do tão referido plano da zona oriental.
Parque das Nações: diversas intervenções.
Isto faz com que toda a zona ribeirinha esteja em mutação.
2. Outras áreas da Cidade
Ainda por iniciativa da CML: a Av. da Liberdade (PUALZE), Plano de Cérceas da Av. da República (à medida da Bragaparques e de outros galifões) e outras interveções espalhadas pela cidade.

Da parte do Governo
Há muitos mais retalhos da vida da Cidade de Lisboa.
Há aqui uma espécie de febre do ouro. Junta-se a fome do Governo (défice) com a vontade de comer (das classes possidentes mais elevadas).
E já estão na praça as intenções do Governo relativas a hospitais militares, hospitais civis e outras (lista de José António Cerejo, 'Público'):

1. Prisão
Penitenciária

2. Hospitais
Instituto Português de Oncologia,
Hospital Júlio de Matos,
Hospital de Santa Marta,
Hospital dos Capuchos,
Hospital Miguel Bombarda,

Hospital de São José,
Hospital do Desterro,

Hospital da Estefânia

3. Instalações militares
Centro de Psicologia Aplicada do Exército,
Convento (?) e Quartel da Graça,
Estado Maior do Exército,
Regimento de Transmissões e de Sapadores,

Governo Militar de Lisboa,
Regimento de Lanceiros 2,
Laboratório Veterinário de Investigação Veterinária,
Instituto Hidrográfico

4. Tribunais
Tribunal da Boa Hora,
tribunais da zona das Picoas...

... Encaixe por parte do Estado previsto por especialistas: dois mil milhões de euros.
Para já, o Governo falou do IPO e de outros «Hospitais», de «Hospitais Militares» e da Penitenciária.
Registo que para a Penitenciária apareceram de imediato vários aceitantes do desafio: especulação é boa.
E, meta na cabeça: há dinheiro. Os condomínios fechados têm sempre venda. E rápida. Porque a classe média é que está a desaparecer. As classes mais elevadas, essas, não conhecem limitações.
Carmona, esse, está na expectativa. Pudera. Isto convém aos seus amigos e aos amigos dos seus amigos. Ia agora afrontar esta oportunidade de altos lucros. Já quando a IURD quis fazer do Império uma piscina para baptismos espectaculares e televisionados pela TV Record, propriedade da IURD, Carmona disse de imediato: «Isso, não». E fez bem, neste caso.

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