O que a censura cortou
Inflação em 1973 atinge os 20,6%
Libertado, nem assim o padre Mário de Oliveira escapou a dois cortes. Para o lixo foram dois textos sobre o feminismo.
Faço notar que eu mesmo, uma no antes, no «Notícias da Amadora» tinha provado da coisa... Nessa data (1973) estava em Cabinda, de camuflado.Inflação em 1973 atinge os 20,6%
Libertado, nem assim o padre Mário de Oliveira escapou a dois cortes. Para o lixo foram dois textos sobre o feminismo.
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9 comentários:
E não desertou?
Por isso colaborou com o esforço de guerra do regime fascistas.
O anterior comentário é imensamente e ordinariamente ofensivo para tantos e tantos milhares de jovens que foram lá "bater com as costas" por não terem paizinhos ricos que podiam por os filhos no estranjeiro...
Vê-te ao eselho meu intelecualoide de meia tijela e repara ele gosta de ti e te transmite uma imagem DIGNA, que é aquilo que a tua não tem...
A censura não era tão subtil, mentirosa e cobarde como a de hoje. Era estúpida, bruta e fazia questão que se soubesse.
Li há dias que Álvaro Cunhal teve uma carta para a família censurada pelo director da prisão onde se encontrava, porque difundia ideias comunistas!
A carta era um comentário ao livro "A evolução das espécies" de Darwin!
O 1º comentário merece um apontamento.
Efectivamente andei a rebolar na relva Alameda da Universdidade, a pensar se me ia embora ou não.
Por um lado, aquela coisa de não ir para a guerra por ser guerra colonial. Por outro, o risco de vida. Mas, por outro lado, dois ou três «argumentos» de peso: 1º - não era menos arriscado fugir pelas serras. Morria-se lá. 2º - o incómodo. 3º - Aquele argumento do PCP (hoje reconheço que na altura me custou a perceber mas que era fortíssimo, como se veio a verificar em Abril, há 35 anos): se todos os que eram de esquerda desertassem, então, quando se fizesse a Revolução Democrática e fosse preciso parar a guerra, quem a ia parar?
Verifiquei em 28 e seguintes de Abril até Agosto de 1974, em Cabonda, que era assim mesmo: se lá não estivéssemos uns tantos que éramos mesmo contra aquilo, «ainda hoje» lá andaríamos.
É que,ao «stablishment»,todos os argumentos serviam para continuar a guerra... fosse por causa da guerra fosse por causa da nossa segurança... lembro-me tão bem de ter percebido então a força e a clareza e justeza do tal argumento do PCP na Faculdade (e suponho que nas fábricas e nos campos também...).
Correcção: Cabinda, claro.
De cada vez que falo disto, é um problema - como só sabe quem por lá passou, e como não talvez não entenda quem não passou por lá, o que entendo.
Para quem desconhece os perigos que representavam a deserção, deveriam informar-se.
Não eram filhos de pais ricos a esmagadora maioria dos desertores e refractarios,mais de 100.000 os que foram chegando a França á Belgica á Holanda, e alguns á Suecia.
Eram jovens que arriscavam a vida, a guardia civil espanhola caçou muitos e entregou-os directamente á Pide, aqueles que desertaram nas colonias e foram caçados, tiveram situações de tortura que levaram alguns á locura.
Estar em França ou na Belgica, era um risco diario, sem trabalho sem papeis, passava-se FOME, e muitos acabaram por regressar, pois não aguentaram a pressão, é que a Pide com a conivência das autoridades francesas, não brincava em serviço, e até na liberal Holanda houve casos, de jovens metidos á força em aviões, e obrigados a regressar a Portugal.
A situação só era segura com o estatuto de refugiado politico, mas que só foi obtido por algumas centenas de jovens por essa Europa fora.
Ser coerente , anti-colonialista, anti-fascista, era recusar fazer a guerra.
E isso ao contrario do que a historiografia oficial do fascismo,e a forma enviesada como este assunto foi tratado no pós 25 de Abril , têm tentado denegrir os desertores e refractarios.
Infelizmente muitos remeteram-se ao silêncio, pois aqueles que colaboraram objectivamente com a ditadura ao fazerem a guerra colonial , sempre tentaram denegri-los, utilizando palavras como cobardia, pais ricos etc.
EU direi e com todo o orgulho, os DESERTORES E REFRACTARIOS, foram os ÙNICOS que foram coerentes com uma visão anti-colonialista , e a sua acção foi decisiva para o desgaste da maquina de guerra da ditadura.
Sem dúvida.
Mas queria ver como é que em Cabinda, e designadamente na zona do meu Batalhão (Bata Sano) se fazia a paz logo depois de Abril, se eu, o Caldeira, o Duarte e muitos outros estivéssemos em Bruxelas...
(Estou apenas a falar da minha experiência, que fui eu que a vivi e não está à discussão se foi assim ou mais ao lado. Foi assim: eu é que estava lá)...
Quando se está na picada armado de uma G3 ou de uma FBP , debaixo de fogo, pouco importa que se seja anti-colonialista , anti-fascista, ou o partido nos tenha mandado para a guerra, para fazer trabalho de mobilização contra ela,MATA-SE para não morrer.
Mesmo que saibamos que do outro lado, está um aliado na luta comum contra a ditadura, e nós estamos com a nossa acção objectivamente a sustentá-la.
Foi com este o dilema, que milhares de jovens mais conscientes politicamente, se debateram diariamente, em acções de combate.
E que perante a morte de um camarada esqueciam todo o seu anti-colonialismo, e transformavam-se em bestas ferozes , só tendo como fito a vingança, fossem velhos ou crianças , que lhe aparececem pela frente, fossem civis pacificos., o desejo era matar , queimar destruir, depois muitos arrependeram-se das suas acções assassinas, e ainda hoje querem de todo esquecê-las, mas lá que cometeram crimes abomináveis, cometeram.
Mas este debate nunca estará terminado, porque em Portugal temos o costume de deitar o lixo para baixo do tapete, e raramente encaramos as coisas de frente, é um defeito nosso.
Não se debate, é um facto.
Mas com esse pressuposto, errado por generalizante e demagogo, também não se vai a lado nenhum. Estive lá. E vi de tudo, da parte das 'nossas tropas': guerra feita, guerra evitada, assistência médica, protecção de direitos. Foi em Cabinda, Bata-Sana, Buco-Zau, 1972-1974.
Não há debate, certo.
Mas quem lá não esteve e tem preconceitos também não ajuda a perceber nada: só levanta raiva e vontade de calar - digo eu que sei do que falo: malta do meu batalhão fica muito incomodada com o que algumas pessoas aqui escreveram nos últimos dias.
Por mais essa razão, peço alguma abertura.
Nem todos eram ferozes. Na maioria eram simples camponeses usados pelo regime. Não perceber pelo menos isso é um zero intelectual.
Muitos estão hoje com inegável stress pós traumático de guerra, o pior de todos os stresses.
É preciso ter muita largura de vistas para analisar uma complexidade soiciológica desta jaez.
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