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Editorial
Como se sabe, Santana Lopes acaba de escrever em quase duas páginas do 'Sol' algumas coisas chocantes.
Saliento aqui meia dúzia, às quais não se pode deixar de dar resposta.
1.
Campanha
(...) note-se que, a partir do Verão, não se ouviu o candidato do PCP nem o do Bloco de Esquerda protestarem pelo facto. Na linha, aliás, da enorme discrição e contenção das campanhas levadas a cabo por estes dois partidos. (...)
Resposta merecida
Quanto ao BE, nada direi. Quanto à CDU, as Redacções, a CNE, a ERC, as Direcções de Informação e até as de Programação conhecem os vários protestos (vários) ao longo da pré-campanha pela quantidade de horas de televisão e de páginas de jornais. Um protesto que foi até ao Gato Fedorento naquela semana em que houve os vergonhosos convites a Santana e a Costa.
Quanto à ideia mirabolante da contenção da campanha, no que à CDU respeita, digo o que vi no terreno: mais de 300 mil documentos impressos e distribuídos, mais de meia hora de tempos de antena de rádio e várias horas de spots de carros de som gravados, vários mupis temáticos, três outdoors. Que mais se podia ter feito? Visitas de muitos candidatos a todos os bairros de Lisboa, a alguns várias vezes, arruadas em vários pontos da Cidade...
Isto é contenção?
2.
Resultados eleitorais
(...) Em minha opinião, houve concertação nesse desvio de votos. O que, sublinhe-se, é legítimo – mas não pode ser considerado transparente. Não conheço nenhuma situação igual no país todo. (...)
Resposta
Não houve concertação, pelo menos não da parte da CDU. Houve, sim, bipolarização em benefício de Santana e de Costa (ver aqui, se houver dúvidas: Costa e Santana tiveram quase 2 horas de televisão para 27 minutos de Ruben, por exemplo - e não está contabilizada a programação, como os Gato) - e, no que toca à esquerda, houve quem agitasse de modo a favorecer Costa; houve personalidades que arrastaram pessoas em ilusões; houve arrastamento das legislativas para as autárquicas.
Mas vale a pena recordar o que se passou em Beja. Aí, sim, o PSD votou no PS só para retirar a maioria à CDU, que subiu a votação mas nem assim segurou a CMB.
3.
Dívidas
(...) Foram assumidos muitos milhões de dívidas que não eram do meu tempo e que transitavam de mandatos anteriores. (...)
Resposta
Hoje sabe-se mais do que isso. Sabe-se, com rigor e das fontes oficiais, qual era a dívida em fins de 2001, quanto cresceu em cada ano seguinte. Não vale a pena regressar à mistificação. Isso tudo já foi objecto de esclarecimentos oficiais.
4.
Reabilitação urbana
(...) A propósito da reabilitação urbana, também ficou patente o valor e a dimensão da obra feita nos diferentes mandatos. (…)
Resposta
A reabilitação em telas ainda dura por toda a cidade.
5.
Gestão urbanística
(…) E ainda no que respeita à correcção de procedimentos na gestão urbanística, nomeadamente em termos comparados. (...)
Resposta
As dezenas de processos em sede de órgãos de investigação falam por si.
6.
Projectos
(...) Só essa possibilidade faz-me sentir o dever de ‘não virar a cara’ e de fazer tudo o que estiver ao meu alcance para impedir que façam mal a Lisboa.
Quero fazer tudo para que Lisboa não fique sem aeroporto. Para que mais contentores não ocupem o lugar de cruzeiros turísticos. Para que a terceira travessia Chelas-Barreiro não traga carros para Lisboa. Para que a ligação do túnel do Marquês à António Augusto Aguiar seja feita o mais rápido possível. Para que a recuperação do Parque Mayer se concretize. Para que os Planos de Pormenor em falta e a revisão do Plano Director Municipal fiquem concluídos. E, principalmente, para que a reabilitação dos bairros históricos e a requalificação dos bairros sociais sejam assumidas como prioridade cimeira. (...)
Resposta
Se, quanto ao aeroporto, se pode conceder, desde que não seja posta em causa a construção do novo aeroporto da margem Sul, e, quanto aos contentores, há que rediscutir sobretudo o contrato com a Liscont de Jorge Coelho, já quanto à prioridade turismo / contentores - actividade portuária de cargas de grande volumetria, aí há que ter cuidado com o sítio onde pomos os pés. (Actualizo: nem de propósito, no dia seguinte a este Editorial, o 'JN' referia que «nos portos de Leixões e Sines há subidas superiores a 6%», mas que, suponho que por falta de condições de atracagem e de escoamento, «já em Aveiro e Lisboa as perdas aproximam-se dos 15% na carga movimentada»).
Mas há nestas frases no 'Sol' outra mistura explosiva: a da Ponte Chelas-Barreiro. A terceira travessia é essencial e deve trazer carros, sim, mesmo que no «derrame» em Lisboa se deva estudar a sua disseminação em circular.
E, sobretudo, que autoridade em matéria de urbanismo, sabendo-se o que se sabe sobre os anos 2002-2007 nesse capítulo? Veja-se o resultado ainda incipiente em matéria de Sindicância e de investigação decorrente.
A revisão do PDM foi simplesmente congelada nesses anos.
Da reabilitação urbana, como se sabe, fez-se propaganda, painéis, telões - e mais nada.
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E se a alguém ficassem dúvidas do que se passou naqueles anos loucos, bastaria abrir este link para ter certezas. Mas é melhor nem abrir.
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Em jeito de nota final
Do que não li nada nas duas páginas do 'Sol' foi da guerra de bastidores em torno da liderança da bancada do PSD na AML: Falcão ou Prôa, eis a questão - disseram os jornais. E até disseram que era aí que estava a hesitação de Santana Lopes, depois de ter dito sempre que só concorria a presidente da CML. Mas ainda bem que decidiu sentar-se no seu lugar no elenco camarário.
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