sexta-feira, agosto 18, 2006

Pelo Carnaval era assim...

O Entrudo

O Carnaval era o Entrudo. Festa importante de descompressão. O t’ Zé Balbino e o irmão, o ti’ António (que não tinha tanta piada nem tanta lata) davam, cada um por si, verdadeiros «one man shows» na aldeia: montados em burritos, o t’Zé vestido de mulher, com trajes bem berrantes, a tiracolo uma sombrinha (guarda-chuva feminino…), e sempre com as suas larachas afinadas, muito delicodoce mas muito incisivo, fazia rir meio mundo.

Mas a época tinha outros aliciantes.

O Testamento do Galo

Era uma festarola! Um verdadeiro cortejo infantil. Com paragens em «estações» previamente ensaiadas. Sempre em direcção à casa do/a professor/a.

E um de voz forte:

«Deixo o gargalo do c…
Em louvor de São Romão
Para as meninas solteiras
Beberem água no Verão»

E muitas outras quadras do mesmo jaez… Com muita escatologia permitida à mistura.

Não me interessa agora aqui tanto o conteúdo do «Testamento», mas sim evocar os arredores da coisa. Uma festa com uma multidão de miúdos armados de paus, percorrendo as ruas, parando aqui e ali para mais um trecho declamado do «Testamento», que terminava com a oferta do galo ao professor.
E os preparativos.
Cada um fazia o seu caderno ilustrado com todo o texto do «Testamento».
A capa.
A capa era um elemento essencial dessa obra-prima.
E as quadras, uma apor página, cada qual com a sua ilustração.
Um primor.

Choradela de Entrudo

As cenas da noite de Carnaval eram castiças: um grupo de «mânfios» andava uns meses a juntar histórias – algumas até escabrosas sobre fulano e sicrano (muitas vezes: fulanas e sicranas, claro!). Depois, nessa noite, corria-se para um alto perto da casa do/a visado/a e, com um vozeirão «amplificado» através de um funil enorme, começava a «choradela de Entrudo»:

- UhUhUh! Ó ti’ Conceição! É uma vergoooonha! Deixar cair o cântaro à fonte e não conseguir apanhá-lo sem se lhe ver o rabo todo!!!! É uma vergoooonha!

E os outros matulões, todos a confirmar em vozeirões com as mãos em concha à fente da boca:

- É uma vergoooonha! É uma vergoooonha!

Claro que este caso o cântaro que caiu à fonte é brando. Mas havia casos duros: namoros desfeitos, namoros escondidos, engates clandestinos.
Uma vergoooonha de facto. Uma espécie de «Caras» ou «24 horas» da altura e em versão oral.

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