sexta-feira, agosto 11, 2006

Um episódio «giro» de 1975

A ocupação e doação do «Centro»

As histórias que eu gosto mais de aqui contar são as que têm piada e passadas na minha meninice.
Mas hoje, a pedido de várias famílias, aí vai uma dos primeiros meses após o 25.
É a história da ocupação da sede do Centro de Animação Cultural lá terra, por nós criado e agitado nesses dias fortes de 74 / 75 / 76… Em minha casa, na Amadora, os putos de lá da aldeia fizeram / fizemos numerosas reuniões / encontros / convívios para ajudar a traçar futuros…
Bons tempos, também esses.

E por isso, esta «história que eu vou contar» agora.

Passou-se mais ou menos assim:

Durante mais de vinte anos antes do 25 de Abril, um edifício que existe no meio da aldeia, num largo próximo da Praça, serviu de centro médico. Aliás, era designado simplesmente como «o Centro». As pessoas iam à consulta ao «Centro».
O edifício era da propriedade da «Quinta», casa agrícola das maiores da região que crescera na passagem do regime com a apropriação dos foros para o seu uso e depois propriedade…
Em 1975, no Verão, um grupo de jovens e alguns mais maduros, juntámo-nos e «ocupámos» simbolicamente «o Centro».
Para quê?
Para ali fazermos a sede daquilo que não existia na terra mas nós queríamos construir com a nossa actividade: um verdadeiro Centro de Animação Cultural (CAC da aldeia).
E assim aconteceu.
Nasceu o CAC da aldeia.
Mas não queríamos hostilizar ninguém.
Eu, por exemplo, sempre tivera óptima relação pessoal com a proprietária (a «Senhora da Quinta», um «latifúndio», para a realidade da terra) e, mais ainda, com o seu administrador-geral, meu padrinho de casamento, por acaso.
Portanto, mesmo não querendo recuar na ocupação, uma coisa era certa também: queríamos uma doação às boas.
Uma noite, fomos todos em manifestação tranquila até à Quinta (a 400 metros da estrada-rua principal da terra) e dissemos o que queríamos – no que fomos de imediato atendidos.
O edifício passou assim para a utilização do Centro de Animação Cultural e para a propriedade da Junta de Freguesia, na altura com uma Comissão Administrativa com malta daquilo que viria a ser a FEPU, que ganharia depois as eleições de 76 (tudo isso, depois de «deposto» o meu pai, último presidente da Junta antes do Dias dos Cravos…).
Foi uma jornada inesquecível, mas complexa, pois já aí o meu vizinho Alberto Antunes, hoje deputado do PS e ex-Governador Civil, primeiro de lá, da Guarda, depois de Setúbal, dirigia nestes seus dias de juventude, uma facção diferente da nossa (ainda nem lá havia PS), pretendendo algo que ninguém entendeu na altura mas que pretendia ser uma espécie de entendimento com a proprietária sem cedência da propriedade – se bem entendi na altura: coisa abstrusa, já que a «Senhora da Quinta» não precisava daquilo para nada e nem pestanejou para ceder a propriedade…


A verdade é que o CAC existe e funciona na mesma sede ainda hoje…