terça-feira, julho 17, 2007

Reflexão sobre os «independentes» de domingo passado


Onde se quer provar que Carmona e Roseta não atraíram só nem principalmente os votos da cidadania...

Já começo a ficar farto desta conversa de 48 horas sobre a força da cidadania de listas de independentes nas eleições de domingo. Independentes? Vamos por partes.
Primeiro: os candidatos. Segundo: os eleitores.
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Os candidatos
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Quanto aos candidatos, nem preciso de dizer que Roseta é tudo menos uma cidadã independente. Até há dois meses foi militante. Todos os cargos que exerceu foi como militante que os exerceu e chegou a eles como militante – seja do PS, seja do PSD há muitos anos lá para trás. Vai, isso sim, a partir de 1 de Agosto, estrear-se nessa coisa de «independente». Tem alma militante. Tem formato militante. E isso, ao contrário do que ela agora espalha, mesmo no caso dela, pode não ser mau. Depende dela mesma. Mas negar esta realidade de vida é irrealista… Na lista, salva-se Manuel João Ramos – o nosso amigo MJR – que, de facto, esse sim, vem dos movimentos cívicos (preside à ACA-M). Mas não foi nele que as pessoas votaram esmagadoramente nem foi esse seu currículo que esteve na mesa das assembleias de voto no domingo passado.
Ainda quanto aos candidatos, veja-se o que se passa com a outra lista, a de Carmona. Ele chega à política visível em 2001 pela mão do PSD e de Santana Lopes. É seu vice-presidente na CML, presidente interino, presidente em substituição, presidente eleito – sempre pela mão e nos boletins de voto incluído debaixo do símbolo do PSD. Ele já deixou claro muitas vezes que sempre «obedeceu» aos líderes do PSD e nos últimos tempos a Marques Mendes, em episódios bem conhecidos e bem negativos para a CML e para ele mesmo e a sua sanidade intelectual, como muitas vezes ficou claro em gestos públicos, em actos oficiais, na cara, no semblante: Marques Mendes não o apoiou e Carmona sentiu-lhe a falta, sempre o controlou e até por telefone se intrometia. Isso foi há poucos meses. Ninguém o pode ter esquecido. Independência? Não será isto, de certeza. Já nem falo de Feist, seu número 2, ex-CDS, sempre eleito em listas de partido (CDS e PSD), nem de Gabriela Seara, nascida para a política em 2001, sempre PSD até que há uns meses se desvinculou para não ser expulsa, como disse e bem.

E do lado dos eleitores?

Pergunto: e os eleitores o que viram nestas listas? Apesar do muito que se tem dito e das muitas parangonas sobre o valor dos independentes enquanto independentes, permito-me duvidar disso e, depois de 48 horas de reflexão, acho que não é por aí.
Acho, sim, que são muito diversos os motivos que levaram 32 mil a votar Carmona e 20 mil a votar Roseta.
Haverá pelo menos as seguintes «tranches»:

1. De facto, alguns milhares que foram atrás da canção do movimento de cidadãos, desligamento dos partidos e tal;

2. Uma boa fatia de pessoas que não gostam da acção do Governo e que decidiu dar uma bofetada correctiva sem cortar os laços com o PS, precisamente porque Roseta é de lá, é da área, coisa que António Costa reafirmou na ante-véspera da votação e que muita gente acredita que assim é;

3. Muita gente esteve há meses com Manuel Alegre e muita gente sabe o papel que Roseta desempenhou nessa campanha (mas também Ana Sara Brito, da lista do PS, o que leva a crer que nem todos esses alegristas votaram Roseta) - acredito que também muita da abstenção se pode agradecer à política do governo, mas isso é outra história;

4. Muitos, mas muitos militantes e simpatizantes do PSD quiseram dar uma mão de ensino a Marques Mendes e para isso votaram Carmona.
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Seja como for, vejo nestas votações tudo menos um peso determinante do espírito de cidadania. Não porque esse espírito não exista em algumas camadas intelectuais lisboetas e não abranja uns largos milhares de alfacinhas – mas porque estes dois em concreto, Carmona e Roseta, não seriam nunca os candidatos da cidadania, precisamente pelo seu currículo. E, por causa desses mesmos currículos, acho que acabaram exactamente por atrair votos partidários anti-actual direcção, no caso de Carmona; ou, sobretudo anti-governo, no caso de Roseta.

1 comentário:

Anónimo disse...

Uma reflexão onde me "revejo".
Excelente amigo José Carlos.
T