segunda-feira, março 21, 2005

Jornal das 11 / Dia 21 de Março

Finanças da CML: a dívida gigantesca galopa dia a dia

Havia rumores, preocupações, mas ninguém estava alarmado, aparentemente.
De repente, tudo mudou.
Primeiro, apareceu uma notícia.
É de 211 milhões de euros a dívida da CML a fornecedores. Foi assim que tudo começou, na semana passada: Anabela Mendes, no ‘seu’ «Público», colocou os pontos nos «is» (a propósito: a dívida reconhecida no final de 2003 foi de 93 milhões de euros e a do final de 2004 foi de 211, como ela escreveu, portanto, o crescimento foi de 118 milhões só num ano: a dívida da CML cresceu 126% num só ano!!).
Vão mal as Finanças da CML.
Razão tinha Martinho Baptista, líder da bancada do PCP na Assembleia Municipal para, em 30 de Novembro do ano passado, perguntar: «Os serviços estão parados por falta de dinheiro? Adiam-se investimentos por insuficiência financeira? As empreitadas iniciadas não avançam por falta de pagamento? As dívidas a curto prazo estão a aumentar a uma velocidade vertiginosa? Qual o montante desta dívida?»
Martinho Baptista acaba de me informar de que nunca recebeu uma resposta oficial às perguntas que fez. Caíram portanto em saco roto.


Truques

Mas, a propósito de finanças, e no que se refere à dívida que a CML terá para com terceiros, uma visitante do ‘blog’ fornece as seguintes adendas ao que aqui publiquei há dias, adendas que colocam a dívida bem mais acima e a tornam bem mais preocupante:
1. Quanto a fornecedores, «a dívida oficial até poderá ser só de 211 milhões de euros, mas a dívida real é muito maior, se desmontarmos os truques. São eles os seguintes: uma factura retida não entra nas contas como dívida. E há muitas. Uma factura que circula para completar o processo, não entra nas contas. E há muitas».
Enquanto o pau vai e vem, digo eu, folgam as costas.
E a visitante continua, porque há mais: «Mas há outro truque ainda mais revoltante. Consiste em pedir por antecipação os recibos, mesmo sem pagar. Entrou o recibo, está pago, essa dívida não conta».
2. Quanto a entidades para com as quais a CML tem «grandes dívidas», esta visitante cita as seguintes: «a) a banca, num valor enorme, indeterminado; b) a Parque Expo, num valor que rondará os 100 a 150 milhões de euros; c) SIMTejo, empresa de saneamento: mais de 30 milhões».
Registo a informação, com o valor que tiver.

Oposição dá o alarme

A ser assim, o total da dívida pode situar-se perto dos 500 milhões de euros ou mais, sei lá…
E ainda faltam seis meses e meio deste mandato, com despesas galopantes.
É aí que se coloca o alerta dado pela oposição: isto pode comprometer o próximo mandato. E Santana Lopes, provavelmente já estará noutra.
Aliás, sobre a dívida da CML, Vasco Franco (PS) e António Abreu (PCP) foram muito duros. Disse o primeiro mais ou menos isto: «Exigimos da CML um plano de soluções, reduzir despesas e repor o prestígio da CML junto da banca nacional e internacional – que, no final do mandato passado estava ao nível do do Estado». E hoje está no degrau zero, acrescento.
E António Abreu: «A CML está de tanga. Já há filas de credores à porta da câmara», cito de cor, a partir de «A Capital», em artigo assinado pela Marta Moreira, a quem Abreu acrescentou não concordar com a venda de terrenos para pagar a dívida: «Os terrenos são o bem mais precioso do município», disse, pelo que há que geri-los com parcimónia e bom-senso, e não desbaratá-los, acrescento.

Sabedoria popular

Ainda a propósito do mesmo assunto, a população provavelmente sabe mais disto do que muitos pensam.
Digo isto porque no fim-de-semana, comentando com o dono do bar onde paro habitualmente, fora de Lisboa, espeta-me com este raciocínio:
«Não tenha pena das empresas a quem a câmara deve. Porque eles, quando facturam, já contam com esses atrasos de anos, facturam logo o dobro do valor da obra. E assim, quando a câmara pagar metade, já pagou tudo. O resto, quando vier, é tudo limpinho».
E disse mais: «Se nos facturassem assim a nós (aos comerciantes e outros empresários privados, quer ele dizer), estávamos todos falidos».
Concluiu ainda que «por isso é que o país não anda para a frente».
É a sabedoria do povo, que, em muitos casos, já vê a gestão ruinosa das finanças do Estado como se fosse uma fatalidade…


Promessas de 2001

Continuando o rol de promessas para cumprir nestes seis meses e meio por parte da maioria e do PSD, hoje recordo em síntese uma parte das promessas feitas aos jovens de Lisboa:
1. Apoiar a criação de clubes jovens de teatro, vídeo, fotografia e música.
2. Criar o Mega-Espaço da Juventude: Sete Colinas/Sete Vertentes, para cultura, debates, colóquios, desportos de sala, comércio…
3. Conselho Municipal da Juventude operativo e renovado.
4. Transformar a Cidade Universitária num verdadeiro «Campus» Universitário: melhorar o espaço, criar infa-estruturas de apoio, criar mais e melhores residências universitárias.
Força! Mãos à obra!

Dois poemas de Zé Afonso

O prometido é devido. Poesia. Dois excertos de poemas do Zeca. O primeiro tem por título: «Vejam bem»:
Vejam bem /Que não há/só gaivotas/em terra/Quando um homem/se põe/a pensar
Quem lá vem/Dorme à noite/ao relento/N’ areia/Dorme à noite/ao relento /do mar
E se houver/Uma praça/de gente madura/E uma estátua/de febre/a arder
Anda alguém/Pela noite/de breu/à procura/E não há/quem lhe queira/valer

O segundo, de que transcrevo só um extracto é o também conhecido «Vampiros», que é o que mais por aí há. Recordo:

«No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêem em bandos
Com pés de veludo
Chupar o sangue
fresco da manada

A toda a parte
chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas

São os mordomos
do universo todo
Senhores à força
mandadores sem lei

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada»