sexta-feira, setembro 01, 2006

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Águas Radium

Havia nas proximidades da aldeia, naqueles tempos de 1930 até 1950, mais ou menos, uma empresa de exploração comercial de água engarrafada.
A grande construção ao lado da «fábrica» de água engarrafada era um Hotel. Domina toda a região. Vê-se de todo o lado. Fica ao fundo da serrania que conduz à Aldeia Histórica de Sortelha (que, naquela altura, naturalmente, não estava ainda reconhecida como Património Histórico, pelo que não passava de mais uma aldeia com muralhas abandonada a meio das serras de Portugal…).
O complexo hoteleiro e industrial tinha a designação popular de Hotel da Serra da Pena. Ou mais simplesmente: a Serra da Pena.
As águas eram distribuídas pelo País e tinham a designação comercial de «Águas Radium». A água e a marca chegaram a ter alguma importância para a época.
A designação de «radium» era uma alusão à radioactividade que se entendia haver nas águas daquela zona (não esquecer que, a pouquíssimos quilómetros ficam as infelizmente célebres Minas da Bica, de urânio, agora encerradas, mas ainda com resquícios de consequências maléficas naquela gente da zona da Azenha, Quarta-Feira, Serra da Pena e Caldeirinhas).
Durante muitos anos, na estrada da Serra da Pena, cá em baixo, no cruzamento para o Hotel, lá estava a placa a apontar orgulhosamente para o meio da serra: ÁGUAS RADIUM.
Todo este complexo era explorado por ingleses. Depois da guerra faliram e deram às-de-vila-Diogo sem água vai.
O meu pai era motorista do «Engº Elias» na altura da falência. Basicamente, andava com um magnífico jeep Willys, descapotável, claro, no qual fui passeado muitas vezes ainda… Mas veio logo a falência do complexo: águas e hotel – tudo desapareceria… Foi aí que o tal engº Elias decidiu pagar-se pelas suas mãos: arrancou do hotel e da fábrica tudo o que eram metais (na altura muito apreciados no mercado) e desapareceu ele também…

Águas do Marineto

Prende-se com esta uma história de uma fraude de que foi vítima o meu avô.
Vou resumi-la.
Há ali perto, a mil e quinhentos metros da Mina, em linha recta, do outro lado da Srra da Bica, uma área da aldeia chamada Marineto (o Povo da terra chama-lhe abreviadamente Marneto) cujas águas – segundo convicção dos ingleses que exploravam as «Águas Rádium» – também teriam essa tal característica radioactiva.
De facto, ainda hoje, nos poços de lá dessa «quinta», ao de cima da água, vê-se perfeitamente uma capinha de cor azulada-esverdeada… sei lá se é do urânio. Eu sempre de lá bebi água e não acho que esteja lá muito radioactivo, embora seja um bocado acelerado (… piada idiota, esta!).
Pois bem.
Esse terreno e esses poços do meu avô foram objecto de um contrato que ele me mostrava muito em segredo também. Um contrato de abastecimento. Ou seja: os ingleses compraram-lhe a água e engarrafavam-na como sendo da Serra da Pena e colocavam-lhe o normal rótulo: ÁGUAS RADIUM.
… Só que, garantia o meu avô, nunca lhe pagaram um tostão.
Diabo de negócios estes da minha família!
(É que... do outro lado da família, o meu avô materno também não teve mais sorte: era herdeiro de terrenos e terrenos a perder de vista – tantos quantos herdou depois por exemplo o primo que ficou rico e toda a sua prole está bem, obrigado. Mas o meu avô, esse teve azar: o pai queimou tudo em mulheres e álcool e má vida. Só ficaram umas coisas inscritas algures – Finanças, Conservatória, sei: estaremos no início do século – pelo o tio dele, o ti’ Jaquim Cameira, o tal da campanha eleitoral dramática, e que era tutor desde que mãe morrera, era ele uma criança. Só essas courelas é que escaparam à má vida desse meu bisavô «malvado», coitado dele).


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