domingo, maio 24, 2009

Marinho Pinto, os advogados e as eleições

.
Acho que a táctica do Bastonário é muito clara e que se destina a encalacrar tudo para José Sócrates - embora não seja essa a intenção directa de Marinho Pinto (MP) mas sim obter a sua vitória sobre a estrutura da Ordem. Explicando: é notório que MP se empenha desde há uns meses atrás em branquer Sócrates no caso Freeport (primeiro a questão da carta anónima que insiste que não o é, como se isso esbatesse o conteúdo ou veracidade ou não da mesma; agora a questão das «pressões» tornando-se aí inclusive mais papista que o Papa, uma vez que até o Eurojust e o PGR intervieram condenando indirectamente Lopes da Mota que MP continua a tentar ilibar antes do processo mas sempre barafustando que tem de ser tudo investigado...).
É também notório que MP se empenha em sublinhar que não depende financeiramente do Governo nem ele nem a família e portanto ele acha que nós devemos por isso achar que faz estas ilibações todas por mero amor à verdade.
Mas agora ficou claríssima a sua parede falsa. É que MP almeja limpar os escolhos que se encontram no seu caminho dentro da Ordem: os Conselhos Distritais (CD).
Quer mesmo apagá-los.
É difícil para quem está de fora ver de outro modo.
Ora quem pode extinguir os CD é uma das pessoas ilibadas por MP: Alberto Costa. Sem o apoio do ministro da Justiça, MP não atingirá nunca esse seu objectivo. Mais e mais sério: a proposta de extinção tem depois de subir toda a esclada da República actual: Primeiro-Ministro, Conselho de Ministros, Assembleia da República (até aqui PS ou de maioria PS) e, finalmente, o Presidente da República. Um percurso hercúleo. Que MP quis preparar também com a sua postura no caso Freeport.
Mas que nem por milagre percorrerá. Muito menos agora, a uns dias de uma eleição que Sócrates poderá ganhar por uma unha negra - se ganhar -, e, pior ainda, a uns meses das legislativas em que cada voto é importante, dada a fragilidade da supremacia que o PS hoje tem e amanhã sabe-se lá se tem...
Ou seja: vista do lado de Sócrates, a questão é a seguinte: «MP tem feito um bom serviço quanto ao Freeport, mas cria-me agora um dilema dos diabos: ou perco o votos dos que o apoiam nesta coisa da extinção dos CD ou perco os votos dos que não querem a extinção dos CD. Com amigos destes, continuo a estar feito ao bife e nunca mais me livro de más famas. Que raio de País este.»
.

4 comentários:

GAC disse...

Pois é, Zé Carlos.
Há já alguns anos, uma peça de Carlo Goldoni (séc.XVIII), numa encenação de Giorgio Strehler no Picolo Teatro de Milão, esteve mais de vinte anos em cena sempre com o mesmo protagonista. Chamava-se a peça "Arlequim servidor de dois amos" , e demonstrava de forma exuberante, farsesca, quase circence, a impossibilidade de Arlequim servir simultaneamente dois patrões.
O nosso país, diria, o nosso mundo, está cheio de Arlequins destes. Que julgam, ou nos querem convencer, ser possível misturar água com azeite Mais tarde, perante os factos deixam cair tudo e entregam-se ao lado do mais forte ou prepotente.
E o mais espantoso é que nós ainda ficamos espantados com a existência de gente desta.

José Carlos Mendes disse...

:)
Mais exacto não podias ser!!

Anónimo disse...

É só cultura!

Eu pasmo de espanto!

O GAC e o Srº José Carlos Mendes são pessoas mais livres que o Srº Marinho Pinto?

"gente desta" quererá significar a chamada superioridade moral?

GAC disse...

Oh homem! (ou mulher), lá porque a cultura não é o seu forte, escusa de ficar tão enxofrado (a).
No antigamente havia quem puxasse da pistola. Era muito pior.