O fio dental e o Manel Cigano
Hoje, na areia, aquela jovem de fio dental já de si mínimo mas que ela comprou um número abixo do que precisava, fez-me lembrar uma história de há muitos anos.
É uma das muitas histórias do Manel Cigano - «da minha terra», ele que, não tendo «terra», achava que era dali porque ali o tratavam bem. Era praticamente da minha idade.
Pois bem, o Manel, que cresceu sempre por ali e era bem tratado lá em casa, tinha imensa piada e estava sempre com piadas novas.
Nesta altura do ano, espreitava a minha chegada por uma razão prática: a malta levava-lhe roupa e outros «regalos».
O Manel, convém dizer, era «sasso» (dizia os sos «s» como os espanhóis dizem o «z»: como se fosso dss sempre com a língua encostada aos dentes de cima à frente...).
E isso dava-lhe um toque de cor (áudio) ainda com mais piada.
O caso é o seguinte: numa das minhas chegadas para férias, ele lá estava à espera.
R ecebeu logo as roupas e tal. Mas às tantas, olhando-me para os ténis (que acabara de comprar em Lisboa), disse: «Ó sô Zé, dê-me esses sapatinhos».
O pessoal riu-se da lata.
Mas acho que ele bem sabia que lhos dava logo.
E dei.
Fiquei descalço. O pessoal à garagalhada. Fui ou alguém foi comprar outros e a história morreu ali por aquele dia.
mas o Manel, com a sua pronúncia de «sasso», no dia seguinte volta para lá para a minha porta e larga-me esta que ficou para a história da família:
«Ó sô Zé, à outra vez compre um número acima que estes ficam-me apertados».
Gagalhada geral até hoje.
O mar.
A jovem do fio dental com um número abaixo da próxima vez também tem de comprar um número acima...
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