segunda-feira, junho 05, 2006

Mundial. Mundial. Mundial. E a Matemática? E o Francês?

O artigo que segue virá publicado na revista Ripa desta semana (uma revista de futebol, de distribuição gratuita, de que sou editor executivo):

«Os pequenos também têm voz

por José Carlos Mendes

Olá, Amigos!

O meu primeiro registo é para me associar aos adeptos emigrantes portugueses quer no Luxemburgo quer na Alemanha pelo mau número dos responsáveis quer mesmo das vedetas da Selecção, que não tiveram a delicadeza de conversar e «sorrir». Que diabo. Não custa muito dar um sorriso aos que andam meses a telefonar e a combinar a melhor recepção aos «craques»… Uma desilusão que os emigrantes mastigam e engolem em seco.
A segunda nota vai para os mais jovens. Esta fase de preparação do Mundial coincide com os últimos dias de testes nas escolas. A miudagem tem andado num virote. Não sabem para onde se virar. Matemática ou Cristiano Ronaldo? Francês ou Ronaldinho Gaúcho? É o dilema de todos. E ninguém os ajuda a resolver esta equação de vida…

1
Esta fase é um dilema para os mais pequenos!

No colégio, na escola, no autocarro, por todo o lado: Mundial. Não há hora do dia em que não se cruze com o Mundial. É uma verdadeira overdose. É mesmo muito forte. Rádios, televisões, telejornais quase inteiros, intervalos dos filmes, jogos para todos os gostos anunciados em tudo o que é sítio, jornais com revistas especializadas e apelos dramáticos do género: «Quem não sabe tudo sobre futebol é mas é um cromo» – sendo que esta é a maior ofensa que alguém pode fazer a alguém na escola.
Mundial. Mundial. Mundial. Ninguém para o defender disto. Está dominado. É tão mais fácil do que aquela «pepineira» da escola. Tão mais atraente. Tão menos chato. Tão menos pesado…
Mas, por outro lado, não pode fugir dos testes destes últimos dias.
Eis o dilema: Mundial ou Matemática? E a promessa de um «ipod», para substituir a «mp3» que lhe deram no Verão passado. Mas a contrapartida é uma chatice: tem de subir as duas «negas» que antevê. E, para isso, tem de se dedicar um bocado: Francês – que estucha; Matemática – a suprema parede intransponível.
Mas o pior é o chamariz por toda a parte: Mundial, Mundial, Mundial.
E o pai: «Está dito: ou te safas ou as férias são para estudar».
E a mãe: «Vê lá, filho, tu vê lá as notas que trazes no fim do ano para casa».
E ninguém para o ajudar nesta dilema.
A luta é entre a escola e as televisões. E se assim é, está ganha: vencem as televisões, claro.
E depois é o diabo.
Prof de Matemática renitente. O «satisfaz minimamente» que lhe deu há três semanas está a condicionar tudo. Prof (uma) de Francês a gozar com os que vão a vermelho.
Que dilema de vida! Quem me tira desta incerteza? Isto é pior para mim do que para a Selecção: passarei esta fase?
Que dilema!

2
Imprensa «cusca» faz mossa

POR OUTRA PARTE, é a imprensa cor-de-rosa a deformar e a coscuvilhar a vida da malta ligada ao futebol. Há, de facto, uma tendência generalizada para considerar importante só o que nos diz respeito a nós mesmos e aos nossos directos pontos de interesse: a nossa família, os nossos amigos, o nosso clube…
Mas a vida não é assim. As pessoas são todas importantes. Têm todas sentimentos. Todas merecem seriedade no tratamento da sua vida: a vida íntima (só e só quando a expõe) ou a vida pública.
Há por aí tanta coisa escrita sobre as vidas da rapaziada do futebol… assuntos que para os próprios devem ser sérios, mas que são tratados de forma ligeira, quase insensível, coscuvilheira, quase «cusca»… escritos que passamos a correr, talvez até nos deleitem… ou, na melhor das hipóteses, coisas a que não ligamos ou que consideramos de forma soft, mas que, certamente, são muito sérias para os envolvidos.

3
Pequenas coisas muito importantes

Dou dois exemplos muito na «berra» para se perceber bem do que falo.
Primeiro caso.
Maria Elisa e Pinto da Costa visitaram no Norte a fábrica Crispim e Abreu e foram recebidos com entusiasmo pelos trabalhadores. Interessante. Até agora, estes dois sempre negaram a relação. Agora, que a não escondem, nem podem dar um passo em sossego. Põem-se a jeito, e a imprensa light cai-lhes em cima.
Outro caso.
Merche Romero e Cristiano Ronaldo. Ela deve andar angustiadíssima. Na Espanha e na net escreve-se o diabo sobre ela. Deve ser muito aborrecido. Agora vem uma revista cor-de-rosa transcrever do site do Chelsea que o jogador só quer «casar daqui a uns dez anos». Aí, fazem logo as contas: daqui a 10 anos, ela tem 40, está «velha» e diabos a quatro. Já imaginou o que isso faz no ego de cada um?
Tudo isto, dito com um ar ligeiro, sem alma, como se estivessem a escrever sobre figuras de cera ou personagens de ficção. Mas não: estão a escrever sobre pessoas de carne e osso, com sentimentos e com sensibilidade.
Aliás, é isso que caracteriza a imprensa cor-de-rosa: escrever sem alma sobre «famosos» dá «pica» e arrasta leitores – eles mesmos sem alma, claro, e cada vez com menos sensibilidade. É a imprensa no seu pior, a distorcer o enfoque e a «mal-formar» em vez de «in-formar» jovens e adultos.

Boa tarde! Um abraço

2 comentários:

Anónimo disse...

Greets to the webmaster of this wonderful site! Keep up the good work. Thanks.
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