Lamento este final infeliz
Edição impressa do «NA» chega ao fim
Edição on line mantém-se

Como saberão alguns leitores deste blog - uma das quais me enviou o texto aí em baixo, o que agradeço - cresci intelectual e politicamente entre a malta do «Notícias da Amadora»: NA, para os amigos. Fui aprendiz, colaborador, redactor, sempre militante do NA.
Foram tempos que recordo sempre com emoção. Muito do que sou por dentro aprendi lá.

Agora, soube que o NA chega ao fim na sua edição impressa. Mantém-se o site. Espero que por muitos anos: mais 48, se possível.

Eis a carta que está a ser emitida pelo Orlando César, filho, seguidor e herdeiro intelectual do bom Orlando Gonçalves:

«Caro/ a amigo/ a

É com pesar que lhe escrevemos para transmitir a notícia de que o Notícias da Amadora suspendeu a sua publicação.
Uma suspensão que ocorre ao fim de 48 anos e de 1637 números publicados. O jornal foi editado durante 16 anos sob o regime de ditadura e outros 32 anos em democracia.
A decisão tornou-se inevitável. A Regimprensa, cooperativa do ramo cultural proprietária do título, considera que é inviável no actual contexto e face às perspectivas futuras assegurar a edição do jornal.
Nos últimos dez anos, o sector da comunicação social sofreu alterações profundas. A imprensa regional perdeu a publicidade da constituição de empresas, perdeu a publicidade das grandes empresas e do sector financeiro, e perdeu ou viu reduzida a publicidade da administração central e local.
Simultaneamente, a imprensa paga perdeu, em geral, leitores em consequência do aumento de oferta televisiva, da propagação de publicações gratuitas (jornais diários, semanais e mensais e revistas de grupos económicos e hipermercados) e do recurso à informação difundida na Internet.
Por outro lado, a especificidade informativa regional na Grande Lisboa não confere vantagem, face à ausência de laços identitários e de pertença de potenciais leitores relativamente aos municípios onde residem. Mas também a cultura editorial do Notícias da Amadora, que no passado lhe conferiu distinção e foi um factor constituinte da sua referência, não lhe concede hoje qualquer vantagem.
Os locais de socialização, como escolas e colectividades de cultura e recreio, não incutem o gosto e a necessidade cívica de se estar informado através da leitura de jornais. Também as entidades e organizações estruturantes das comunidades estão hoje divorciadas do fenómeno comunicacional e alheadas do contributo que acrescenta à formação individual e ao conhecimento da realidade, que esclareça uma escolha livre.
Pelo contributo que deu à luta pela conquista das liberdades e pelo seu espólio editorial, o Notícias da Amadora é património nacional. Todavia, não é assim percepcionado na actual conjuntura, em que os valores e referências simbólicos são preteridos pela mercantilização de todas as esferas da vida.
A edição impressa do Notícias da Amadora é suspensa, mas estamos a envidar esforços para saldar o passivo acumulado nos últimos dois anos. Queremos com isso preservar o património editorial do jornal e manter as suas instalações abertas, de forma a assegurar o sítio do jornal na Internet. Torná-lo num espaço que seja enriquecido com novos conteúdos de edições impressas passadas e que seja actualizado com artigos de colaboradores e informações culturais e de agenda.
Desejamos que os nossos amigos e amigas nos apoiem para assegurar não só a memória como a existência do sítio do Notícias da Amadora na Internet.

Receba as saudações amigas da equipa do Notícias da Amadora,

Orlando César
Amadora, Dezembro de 2006 »

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