A torre da igreja
Esta peça vulgaríssima de arquitectura religiosa, a torre da igreja da minha aldeia, nada tem de especial. Mas exercia naqueles tempos uma atracção e uma influência enorme. Por ser alta? Por ser afiada? Por razões de domínio intelectual e ideológico da Igreja-instituição? Não sei. Sei que até as cegonhas escolhiam a torre para fazerem o seu ninho, ano após ano…
Era na igreja que estava o sino, que dava as novidades grandes: o baptizado, a missa, o casamento, a morte: tudo passava pelo sino – logo, pela torre da igreja…
O relógio da torre era um mecanismo de dominação terrível: a escola começava e acabava com o bater de determinadas horas; a carreira passava quando o sino do relógio batia aquelas horas; o almoço, a ida ao pão, o recreio – tudo, tudo, dependente de certa batida do relógio.
«Quantas bateu» - era a frase que significava apenas: «Que horas são?»
O relógio dominava a vida na aldeia.
Não havia nem as fontes de informação nem os mecanismos de hoje: relógios em barda, telemóveis com horas, carros com horas, tudo com relógios…
E, acima de tudo isso: a torre da igreja, onde até o relógio estava instalado.
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