sábado, agosto 26, 2006

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Fim do século XIX na aldeia

Uma campanha eleitoral violenta

Havia duas facções na aldeia, como em todo o País, pelos vistos. Os chefes de facção / de partido eram o Calheiros e o Guerra: de um lado, o sr. Calheiros e o filho é que chefiavam o seu partido; do outro, o sr. Manuel José e o ti’ Jaquim Cameira (pai do ti’ António Joaquim Cameira), o qual ti’ Joaquim Cameira era tio-avô da minha mãe (meu tio-bisavô, portanto).

A família Calheiros desapareceu toda de repente: a tuberculose não deixou ninguém.
A casa onde a família habitava fora construída no século XVIII: uma boa e ampla construção de granito, muito próxima da igreja.
A família do sr. Manuel José Guerra vivia no edifício mais tarde e ainda hoje designado como o «Centro». Mais tarde mudaram-se para a «Quinta»: o filho, o Dr. Guerra e a nora, D. Maria do Céu, não tiveram filhos.

Voltando à história da campanha partidária forte: decorria a campanha eleitoral para os deputados da Nação.
Estaremos no final da década de 1890 ou mesmo nos primeiros anos de 1900.
Esta foi uma campanha violenta.
O filho do sr. Calheiros queria meter os adversários em casa e dominar a rua.
Para isso, usava apenas isto: uma barra de ferro pesada. O alvo: as cabeças dos adversários políticos.

Uma noite, numa ruela que é mais um beco estreito, altas horas, o ti’ Jaquim Cameira foi agredido com a barra de ferro pelo Calheiros jovem. Mas as coisas correram mal para o lado do Calheiros: o ti’ Jaquim Cameira era possante (como, aliás, o filho, o ti’ António Joaquim Cameira, que, quando se passeava na aldeia imponente no seu cavalo alto, metia todo o respeito do mundo: a miudagem ficava mesmo embasbacada com a cena).
Com a mesma barra de ferro, que lhe tirou das mãos – os dois absolutamente sozinhos na noite escura de breu numa aldeia que dormia dos trabalhos do campo e se preparava para novo dia de labuta muito dura – e, com a mesma «arma», «deu-lhe umas cacetadas valentes», como se contava na família com orgulho. Mas o resultado foi fatídico: o jovem Calheiros esteve uns meses doente, de cama até, e acabaria por morrer disso. A sorte do ti’ Jaquim Cameira é que não havia viv’alma na rua, não houve testemunhas e tudo não passou de um susto na família…

Daí por 70 0u 75 anos, nas campanhas de 75 e 76, houve muito debate e muita garra – mas nunca nada que se pareça com agressões físicas e menos ainda com mortes… Felizmente!

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