O Forno da minha aldeia
O Forno é um equipamento social indispensável e mesmo essencial de uma aldeia naqueles anos 40-50. Da minha lembrança, o forno mais importante era o da t’ Mari’ Bárb’la (Maria Bárbara). Quer dizer: o forno não era dela. Ela era como que a gestora daquilo. E de que modo o geria! Havia dois fornos. Mas este é que era o mais castiço. E a forneira era de facto um cromo.
No processo de fabrico do pão (centeio, escuro), há vários momentos. Estão aqui, claro, a lembrar-me isso. Tudo começa em casa com a amassadura. Depois, fica em repouso. Mas só podem ser moldados os pães um a um e colocados direitinhos no tabuleiro (chama-se a isso «tender») quando a forneira dá essa ordem à aldeia – ou melhor, à parte da aldeia que coze nesse dia. É um mecanismo simples para a época: a t’ Mari’ Bárb’la percorre as ruas onde moram as pessoas da lista do dia e vai de gritar a grandes pulmões (era uma matrona razoável, como tinha de ser):
- Ó ti’ Visitação!!! Já pode tender!!!
Isto, bem berrado, como convinha.
(Até se conta que um dia uma das da lista, com os copos a sério, não quis saber dessa ordem de «tender» da forneira e, sem pudor, porque o cérebro estava noutra, terá respondido:
- O pão logo se tende amanhã…
É preciso que se perceba o absurdo desta resposta: o processo de fermentação do pão é imparável, como é evidente… Mas a cabeça da senhora, com a vinhaça, não estava nessa…)
Depois disso, era só ir até ao forno.
O pão cozia.
Enquanto isso, as mulheres conversavam, conviviam.
A vida da aldeia, evidentemente, passava toda por aquele telejornal colectivo da altura.
Por vezes iam também uns bolos pequenos. De vez em quando, com esses bolos, ia também um «pão-leve» (pão-de-ló).
E ninguém pagava em dinheiro – que era coisa que não abundava por ali. Pagavam, sim, em espécie: um pão, uns bolos…
Pão e batatas: a base da alimentação de muitas famílias, quase todas.
As batatas, semeadas com base familiar.
O pão, o forno, a cozedura, com um colorido de tarefa colectiva, social.
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