Um avô e peras!
Hoje vou explicar por que é que o meu avô paterno acabou na construção civil («pedreiro») e não na indústria dos transportes rodoviários. – hoje eu estaria rico. E não era blogger, de certeza: não teria tempo; e, de certeza, não seria comunista: não teria apetência – estou no gozo, claro!!! (Sou muito rico: tenho uma família óptima e amigos qb, adoro o que faço e dá-me ‘pica’ esta coisa da vida real…).
Voltando ao meu avô, e agora a sério.
Ele teve o primeiro autocarro da região. Estava-se nos anos 30. Tudo corria bem. Um dia teve o azar de ter um acidente horrível em que morreu um jovem adolescente esmagado pelo autocarro.
O meu avô foi julgado. Considerado culpado, houve lugar a uma grande indemnização à família. Ficou sem carta para toda a vida. Teve de vender o autocarro. E recomeçar vida noutro ramo, como pedreiro. Construiu imensas casas e armazéns agrícolas na zona, em conjunto com os primos, que já andavam nesse ramo antes dele.
Assim acabou uma empresa florescente, já com um autocarro nos anos 30. Teria sido, sem dúvida um grande empreendimento no sector dos transportes.
O meu pai ainda tentou, a partir dos anos 50, seguir um caminho idêntico, chegando a ter, além de um táxi, duas ou três camionetas de transporte de materiais e produtos. Mas nada de mais…
Este meu avô paterno adorava-me: neto único durante muito tempo (as minhas irmãs eram raparigas: outro mundo; eu era o – o – neto). E fui sempre o mais velho, o que contava, naqueles dias, naquelas paragens, acredite!
Aí pelos meus oito, nove anos, fechava-se comigo na sala do escritório para me mostrar coisas. Papéis. Processos. Coisas sérias. Para que eu soubesse que existiam. Estavam fechadas à chave, escondidas até dos filhos – o meu pai e os meus tios…
Um desses «dossiers» dizia respeito exactamente a umas instalações que lhe estavam confiadas pelos italianos Menegoni (já falei deles, a propósito dos bailes da terra). «Os Italianos» eram uma antiga fábrica de separação de minério.
Qual era o problema?
Os italianos tinham abandonado tudo à pressa, após a derrota da Itália na II Guerra. Tinham estado na minha zona para explorar volfrâmio.
Na hora da fuga, entregaram as chaves de tudo ao meu avô e disseram-lhe para cuidar das suas coisas.
Ele assim fez.
Passaram anos e anos. E dos italianos nem uma única notícia.
Um advogado consultado pelo meu avô para saber o que devia fazer tinha-o aconselhado a continuar a tratar de tudo e a pagar os impostos / contribuições, que, ao fim de trinta anos, tudo entraria na sua propriedade.
E assim aconteceu: em 1973, o meu avô registou tudo em seu nome.
Foi assim, no concreto dos negócios da família, que, aos nove anos, fui industriado em conceitos dificilmente conhecidos com rigor mesmo por parte de alunos dos primeiros anos da Faculdade de Direito. Quando lá cheguei, aquilo para mim era canja: os conceitos de posse, uso, usufruto, propriedade (plena), usucapião… para mim, tudo na boa: cresceram-me os dentes no meio desse «paleio»… em casa do meu avô paterno.
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