quarta-feira, agosto 23, 2006

Largos, terreiros e praças da aldeia

A sua importância nesses anos 40/50

Nessa altura, a electricidade chegava à aldeia.
Chegavam os primeiros carros ao povo (antes, só os muito ricos tinham tido): um Volkswagen, um Studebaker, um Citröen arrastadeira.
E o «meu» Chrysler.
Eu tinha o «meu» primeiro carro: um Chrysler cor de vinho, lindo, lindo. Não andava com o motor a trabalhar: os miúdos empurravam de manhã até lá acima à escola das raparigas e ao meio-dia, vínhamos todos (uns quinze putos encavalitados), tudo à boleia, só com o efeito da gravidade…
Nessa altura, chegava à aldeia, também, a esferográfica.
Pormenor giro: pelos 3 ou 4 anos – aprendi a escrever (fui aprendido, tinha de ser) tinha aí uns 4 anitos. Um dia, na loja («mini-mercado», diríamos hoje) do sr. Tó Pinto, onde o meu pai parava horas sem fim, a ler o «Século» religiosamente todos os dias e no paleio com quem por ali abeirava…, diz o meu pai para mim:
- Dá lá dalém a esferográfica.
Eu fiquei boquiaberto. Não sabia o que era. E como sempre (ainda hoje) quando não «estou por dentro», calei-me e fiquei à espera dos próximos desenvolvimentos.
Como era brincadeira deles para que eu aprendesse, riram-se. Provavelmente, era a primeira esferográfica chegada à terra. Uma revolução…
Nesses anos, chegava também a febre das fossas sépticas nas casas.
Chegava todos os dias a sardinha e outros peixes.
Chegava todos os dias e era distribuído o correio.
Estava em preparação a chegada da Casa do Povo, com televisão e tudo (final dos anos 50, princípio dos 60).

Os terreiros: pontos de convívio

Só quem não tem imaginação é que não vê a importância dos largos, terreiros e praças nestes tempos. A conversa era a base do convívio. Claro que havia futebol entre aldeias – mas isso seria mais daí a uns dez a quinze anos em meados dos anos 60. Havia as festas. Havia as famílias. Mas toda a malta acabava por se juntar mais a conversar era no Terreiro de São Francisco, largo principal e mais central da aldeia, com o seu imponente chafariz com a melhor de todas as águas da zona; ou na Praça, ponto de encontro principal da malta lá de baixo e onde o Chafariz era referência central.
Havia, naturalmente, o Largo da Igreja.
Havia também o Terreiro da Fonte.
E o Largo do Chafariz.
(Veja como a água – ainda não havia abastecimento público – desempenha papel especial, como é evidente).
No meio da terra, tínhamos ainda, o Reduto (onde dantes havia as touradas, e nesse tempo ainda se lá fizeram algumas).
E, lá mesmo o fundo do Povo, o Largo da Estalagem.
Lá deve ter havido algures no tempo uma estalagem, mas nada do meu tempo.

Estas eram as esplanadas da altura… Ali todos se encontravam e tudo se conversava.
Muita brincadeira fiz com a malta nesses locais míticos da minha infância…

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