domingo, agosto 20, 2006

Coisas de antanho

Superstições e mitos

No pós-guerra, na minha terra, não era o crescimento nem o desenvolvimento que m arcavam território.
Não.
O que por ali predominava era a superstição e os mitos. Mas ainda mais os ritos religiosos, claro, como em todo o Portugal profundo.

Superstições

Só dois exemplos.
O ladrar «aflito» dos cães em noite de invernia – significava para muitos o anúncio da morte de alguém na aldeia.
O grito «de dor» dos pavões da “Quinta da Senhora” (pequeno latifúndio cuja casa senhorial – não pela arquitectura mas pela dominação) – significava também a morte de alguém.

Mitos e lendas

Havia muitas lendas naquele tempo. Uma espécie de literatura do maravilhoso infantil Só que os adultos é que acreditavam nelas antes de nós.
Hoje conto aqui duas ou três dessas histórias.

Mouras encantadas
As mouras encantadas que dançavam e faziam as suas festas de comezaina em cima do «Barroco Riscado», grande rochedo da serra ao lado da Serra da Vila. O «barroco» (fui lá acima uma única vez, na adolescência: o local era tido como semi-misterioso e dado a feitiçarias) tem lá em cima umas poças – seguramente feitas pela erosão dos ventos e da água das fortes chuvadas. As poças são muito redondinhas. Parecem de facto pratos feitos de granito… Era nesses pratos que as mouras encantadas comiam nas suas festas de feitiçaria…
Contavam-nos isto com o ar mais sério do mundo e muito acontecidos, como lá se dizia: muito compenetrados da verdade absoluta da estória.
E nós, boquiabertos:
- Ahh!

Obrigado a quem me voltou
Sobre o mesmo barroco contava-se uma história de encantar a pequenada toda.
Um dia, há muitos, muitos anos, uns homens que andavam na serra com os gados viram lá umas palavras escritas no barroco.
Um deles sabia ler e leu: «Voltem-me que já estou há muito tempo deste lado».
Voltaram-no.
E por baixo, do lado que agora estava para cima, o que leu o mesmo pastor?
«Obrigado a quem me voltou / Que há tanto tempo deste lado estou».
E nós, maravilhados:
- Ahh!

O pote de ouro
Contava-se lá que uma das famílias mais ricas tinha chegado à riqueza de uma forma bem estranha: um dia, havia muito tempo, o patriarca da família tinha encontrado uma moura encantada que lhe dissera para procurar que encontrava.
Nem onde nem o quê: apenas «procurar e encontrar».
Procurou e encontrou: havia um pote cheio de moedas de ouro enterradas debaixo do «balcão» (escadaria de pedra de acesso exterior à casa). Mas apanhou um susto antes de chegar às moedas. Porquê? Porque o pote estava guardado por uma serpente gigantesca que estava enrolada ao pote de barro antigo. Então, o sr. Alexandre foi buscar uma arma e… matou a serpente. E pronto: ficou com as moedas e ficaram todos ricos.
E nós, admirados e encantados:
- Ahh!

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