segunda-feira, agosto 28, 2006

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Crónica de férias

O homem da taça de branco

Levantar cedo em férias? Quando o corpo o diz, tem de ser… Hoje foi assim. Dei comigo às 8 da manhã no restaurante próximo para o meu primeiro descafeinado… Depois de tantos anos com tanta italiana por dia, fui colocado em quarentena. Agora, só «isto».
Ao meu lado, ao balcão, outro cliente. Diário. Tenho-o visto por aqui sempre. Mais ninguém no bar todo.
A empregada:
- Faz favor.
(Esta expressão veio para ficar: não é nem «Faça o favor», como talvez deva ser; não é a pergunta que se admitia como equivalente: «Faz o favor» (frase elíptica que poderia ser completada com um «de dizer o que quer tomar?»… Não: apenas um «Faz favor». Pronto.)
Cada um pediu.
Entretanto, no afã das lavagens de copos (da noite, suponho), uma fiada de copos começa a inclinar-se, a inclinar-se… cai o primeiro, empurra o segundo e por aí adiante: uma espécie de cascata…
Chega mais um cliente.
Mal aponta à porta, a empregada larga tudo, saca de uma taça que coloca num determinado ponto do balcão, tipo um lugar previamente marcado, saca de uma garrafa de branco, enche a taça. O homem não diz nada. Beberica um trago. E no segundo trago emborca tudo de uma só vez, como quem depois do treino tivesse apenas de meter o golo…
E eu estranho: «Mas como é que a empregada sabia que o gajo queria a taça de branco?»
Treino, acho eu.
O outro, nem pestaneja. Paga, atende um telefonema no telemóvel. «Afinal não é um alcoólico», penso. «Tem vida própria. E só pode ser vida económica, a uma hora destas…».
Ingenuidades minhas.
O outro grita uma resposta:
- Onde é que estás? Onde?! Ah! Está bem. Eu estou no … (diz o nome do bar). Espera aí que já aí vou ter contigo. Não demoro nada. Sim!!
«Afinal», corrijo eu o pensamento: «Não um, mas logo dois alcoólicos, logo às oito da matina. Porra!!».


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