quinta-feira, agosto 03, 2006

Vindos da Argentina

Os "soutiens" «do» ti’ Zé Ruço

Esta história deve começar por volta de 1920 e tal. O t’ Zé Ruço era então um jovem simples, trabalhador agrícola, filho de agricultores com meia dúzia de courelas que não permitiam a sobrevivência em condições mínimas.

Um dia, o Zé Ruço tomou uma decisão: ir para o estrangeiro. Mas para onde? Na altura havia dois destinos de base para a emigração: o Brasil e a Argentina. Circunstâncias da vida levaram-no para a Argentina.
Mas, primeiro, quis casar. E casou com a sua namorada de sempre: a Laurinda.
Poucos dias depois da boda, modesta, veio a ordem: havia autorização para o Zé Ruço partir para a Argentina. E partiu. Provavelmente com a promessa de, uns meses depois, «mandar ir» (era assim que se dizia) a sua Laurinda.
Mas não.
Não foi assim.
Por razões que nunca ninguém entendeu – e menos ainda, certamente, a ti’ Laurinda – o t’Zé Ruço nunca mais cá veio. Nunca mais deu sinal de vida. Nem uma carta.

Nunca mais, não.

Passaram-se cerca de 40 anos. E, um dia, quem é que aparece na aldeia? O argentino. O ti’ Zé Ruço. Ele mesmo.
E julgam que vinha rico?
Enganam-se.
Fora à procura do El Dorado (Eldorado) mas não o encontrara. E quanto mais procurou durante os 40 anos mais ele se afastava…
Por isso, nada mais podia fazer: voltou para a sua terra.
E julgam que a ti’ Laurinda o rejeitou?
Enganam-se.
Recebeu-o como se tivesse «abalado» ontem…

Mas julgam que, lá por não vir rico, o ti’ Zé Ruço não trouxe uma «boa prenda» para a sua «Laurindinha, meu amor», que ele chamava com o carinho dos 20 anos, agora que já fizera os 60 bem medidos?
Trazia, sim senhor. Trazia uma prenda, «un regalo» para «mi amor».
E o que era essa prenda?
Um… conjunto apreciável de «soutiens» bem empinados, cuecas super-sexy e outros apetrechos iguaizinhos aos que via sempre nas «boîtes» de Buenos Aires.
A senhora tinha na altura mais de 60 anos e tinha a mentalidade e as preocupações de qualquer mulher de uma aldeia amodorrada e abandonada no meio do país. Não a mentalidade e as preocupações das jovens de Buenos Aires com quem o t’ Zé Ruço eventualmente se relacionava.
Tudo bem.

E, perante a pergunta da ti’ Laurinda «Ai, Zé, Zé, agora para que é que eu quero isto, Zè?», o t’ Zé Ruço terá respondido com a maior das ingenuidades: «Para que fiques más linda, mi amor!».

Na aldeia, até hoje, foram sempre motivo de gargalhada descarada tanto esta prenda como a cena que se seguiu.

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