terça-feira, fevereiro 20, 2007

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Lisboa, teses da Bragaparques, jornal «Público» e partidos…
O artigo que o «Público» recusa publicar

Há quinze dias que José Manuel Fernandes tem este texto no seu mail. Mas publicá-lo, nem pó. Isso, apesar de alguns altos responsáveis do «Público» dizerem que tenho razão «quase» a 100%.

No passado dia 11, fiz chegar a José Manuel Fernandes, director do «Público» o artigo que segue. Tal como previ, esta matéria e este modo de ver a vida não cabe naquela cabeça que não tem telescópio para tanto. Nada de novo. Isso mesmo escrevi no texto: prevendo que o mesmo não seria publicado naquele jornal, decidi encontrar formas de o divulgar. Aqui está, para já. Mas pode vir a ter outros usos.
Eis o meu texto:

Manchete do «Público» é um abuso
Bragaparques, gravações e papel dos partidos

José Carlos Mendes

No sábado, 10 de Fevereiro, na manchete do «Público» e no pequeno texto que a acompanha na 1ª página, há várias inverdades subsumidas. Sem qualquer teoria de conspiração, deixo desde já claro o seguinte: acho que ali é cometida uma maquinação contra o PCP. O que me revolta e me obriga a protestar.
Trata-se de uma frase de Domingos Névoa, empresário da Bragaparques de má fama.
Parto do princípio que o jornal nem lhe deu crédito nem deixou de dar mas que sentiu antes a obrigação de divulgar as gravações, o que acho normal, até para não ficar atrás do «Expresso» de sábado, que reproduz, gravadas por Ricardo Sá Fernandes, as conversas havidas entre este advogado e o empresário de Braga.
Ora eu entendo que essa frase do empresário não permite o alargamento intelectual que a manchete faz. Pelo menos, no que se refere ao PCP. Nem Domingos Névoa, que todos sabemos quem é e o que faz, se atreveu a ir tão longe.
E isso altera tudo. Domingos Névoa disse, no seu linguajar característico, que «o PCP – PC, para ele – está ali parado, encovado e em banho-maria».
O homem disse isso? É problema dele. Não vem daí mal ao mundo.
Mas há mais. Há que ler o que o homem terá dito e o que isso significa.
Qualquer pessoa de boa formação conclui o mesmo que eu: Névoa quer dizer, lá nos seus conceitos, que o PCP não tem força política para se opor ao negócio – e acho mesmo que ele quer subentender que o PCP, sem força política e sem poder constituir obstáculo, também não é corruptível. Isso, acho eu, é o conjunto das ideias que estão por detrás daquela espécie de discurso do empresário da Bragaparques.
E o que faz a manchete do «Público»?
Vai mais além. Faz exactamente aquilo que a deontologia lhe não pode permitir: alarga conceitos, mete tudo no mesmo saco, leva o leitor a concluir muito mais do que o empresário disse. Ou seja, no rigor dos termos: essa manchete do «Público» engana os leitores, porque faz uma interpretação extensiva abusiva.
Ora, todos sabemos que a teoria da interpretação obriga a ter em conta, para lá da forma (as palavras, digamos assim), também a substância e as circunstâncias.
Todas essas armas da interpretação levam qualquer pessoa de normal formação a evitar ir além do que Névoa disse de facto, quanto mais ir além daquilo que a análise da sua formação deve levar a entender.

Uma manchete feita por abuso de interpretação

O que infelizmente resultou numa gravíssima ofensa para as pessoas concretas que dão cara e voz ao PCP. Se não, vejamos o que segue.
Primeiro: a manchete mete na mesma expressão o PS e o PCP quando afirma que a empresa não considerava o PS e o PCP «obstáculo» ao negócio. Mas não é isso que faz nem o próprio Névoa. Nem ele. Ele separa as águas: não mistura razões. Diz uma coisa sobre o PS e diz outra sobre o PCP. E isso não é desprezível para quem queira fazer uma informação rigorosa. Mais: isso faz toda a diferença. Penso que o «Público» faz esta manchete também no mesmo pressuposto do empresário: a direcção do jornal, com certeza, também está convencida de que o PCP esta «ali encovado, em banho-maria». Essa coincidência de filosofias não beneficia o jornal, evidentemente.
Segunda questão: as conversas são gravadas a 24 e a 27 de Janeiro de 2006 (há um ano). As votações tinham acontecido a 4 de Fevereiro de 2005 na CML e a 1 de Março desse ano na AML. O PCP perdera dois vereadores nas eleições de Outubro de 2005. Para Domingos Névoa essa é a questão central, julgo eu. Névoa nunca se atreveria a referir qualquer compromisso dos eleitos do PCP. Nem podia, a menos que, mesmo sem saber que estava a ser gravado, perdesse toda a vergonha.
Terceiro ponto: se o «Público» tivesse querido se rigoroso, então devia referir outras afirmações do mesmo empresário, antes e depois das gravações e que – essas sim – deixam muitas questões em aberto sobre o que se pode ter passado. Mas para mim fica claro que naquela manchete infeliz não houve intenção de informar com rigor, mas sim a intenção de chocar ainda mais do que o «Expresso» – jornal que, aliás, se limitara no dia anterior a transcrever as gravações sem avançar ilações e sem ir mais além do que as gravações permitem. E fez bem o «Expresso». Fez mal o «Público». Esta é a minha opinião frontal.
Quarto ponto que devo referir: o «Público» sabe, como toda a imprensa sabe desde 1 de Agosto de 2005, que o PCP levou todo este processo às instâncias judicias que devia, depois de os seus eleitos na Câmara e na Assembleia Municipal terem votado contra a proposta de negócio. E o «Público» sabe que também o Presidente da Assembleia Municipal de então (eleito pelo PCP) o fez: participou à Judiciária e ao Ministério Público. O «Público» sabe-o, mas omite-o nesta manchete, no artigo da pág. 7 da mesma edição que a suporta e em geral quando escreve sobre esta matéria: é que o PCP foi a única força política que votou contra o negócio, todas as restantes (excepto os Verdes na AML) votaram a favor. Não se abstiveram: votaram a favor. E isso, hoje, é muito importante.
Tudo resumido: devo concluir que o «Público» fez uma manchete com abuso de interpretação. E isso é mau. Isso não prestigia o jornal. Pelo contrário.

Notas finais

Faço uma declaração de interesses, como aconselham os bons costumes: sou colaborador directo dos eleitos do PCP na Autarquia lisboeta. Sou militante do PCP, o que me dá uma leitura específica desta questão. Sei isso. Dói-me mais do que a outras pessoas. É natural.
Por outra parte, sei que não será de boa vontade e com entusiasmo que o «Público» publicará estas linhas, se as publicar. Mas sei que haverá quem defenda que deve publicar. E tenho alguma expectativa no caso. Aguardarei a sua publicação. Será um sinal. Que os leitores saberão ler. Mas acrescento: publicar ou não publicar, não é problema meu, é problema do director do jornal. Estas linhas, como se sabe, acabarão por ser lidas – seja neste jornal seja noutro seja na net em muitos sítios. Espero que seja no «Público».


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2 comentários:

Anónimo disse...

essa frase inscreve-se na estratégia de induzir a ideia de que o pcp é imobilista e "não faz nada".
portanto mais vale votar no alternante do costume.
o problema dos "públicos" é que desta vez o alternante está demasiadamente comprometido.
isto não é teoria nenhuma, é prática mesmo.

Anónimo disse...

Deixe estar que o PSD não deixará de o ler aqui... :-)