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«Sim», claro!
Lisboa tem destas coisas
Devo ter mesmo uma ‘panca’ com os arrumadores de rua em Lisboa. Ou eles comigo…. Deve ser da forma como me relaciono com a cena deles.
Aos três que mais param na zona do Centro Vitória (Avenida da Liberdade, 170) conheço-os um a um. Já me contaram a sua vida toda. A vida mesmo. A idade. As doenças. A medicação e os preços. As dependências e a luta contra elas. A mulher de um, já afastada do palco da vida dele. O frio. As noites enroladas em jornais – o que é quente –, mas o papel de jornal (fiquei eu a saber um dia destes) cola-se ao suor da pele e de manhã é uma chatice.
Hoje de manhã, ia eu a subir a Avenida – nem sequer ia para o Vitória mas sim ao «Diário de Notícias» –, e eis que ali mesmo um deles me faz sinal. Abrando, digo que não vou parar ali. O clássico «Dê-me qualquer coisa. Ainda não comi nada». Paro. Abro o resto do vidro, olho para o espelho – no carro imediatamente atrás do meu, uma senhora. Em geral levo uma apitadela nestes casos. Não foi o caso. Ela percebeu tudo: que eu não ia parar, mas que ia dar um euro ao jovem. E aguentou calma.
Meteu a moeda ao bolso do blusão rafado. E larga-me esta, que mereceu estas linhas:
- Domingo, o «sim» vai ganhar.
Eh, pá. Não esperava por esta. E só tive tempo para um:
- Porta-te bem, malandro.
A Cidade tem destas coisas.
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«Sim», claro!
Lisboa tem destas coisas
Devo ter mesmo uma ‘panca’ com os arrumadores de rua em Lisboa. Ou eles comigo…. Deve ser da forma como me relaciono com a cena deles.
Aos três que mais param na zona do Centro Vitória (Avenida da Liberdade, 170) conheço-os um a um. Já me contaram a sua vida toda. A vida mesmo. A idade. As doenças. A medicação e os preços. As dependências e a luta contra elas. A mulher de um, já afastada do palco da vida dele. O frio. As noites enroladas em jornais – o que é quente –, mas o papel de jornal (fiquei eu a saber um dia destes) cola-se ao suor da pele e de manhã é uma chatice.
Hoje de manhã, ia eu a subir a Avenida – nem sequer ia para o Vitória mas sim ao «Diário de Notícias» –, e eis que ali mesmo um deles me faz sinal. Abrando, digo que não vou parar ali. O clássico «Dê-me qualquer coisa. Ainda não comi nada». Paro. Abro o resto do vidro, olho para o espelho – no carro imediatamente atrás do meu, uma senhora. Em geral levo uma apitadela nestes casos. Não foi o caso. Ela percebeu tudo: que eu não ia parar, mas que ia dar um euro ao jovem. E aguentou calma.
Meteu a moeda ao bolso do blusão rafado. E larga-me esta, que mereceu estas linhas:
- Domingo, o «sim» vai ganhar.
Eh, pá. Não esperava por esta. E só tive tempo para um:
- Porta-te bem, malandro.
A Cidade tem destas coisas.
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3 comentários:
que mau exemlo dar esmola aos arrumadores? Das duas uma ou aceita o serviço que lhe prestam ao arranjar lugar de estacionamentoe dá qualquer coisita ou não, mas dar esmola?
Nem parei, homem.
Desse radicalismo já gastei tudo.
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