sexta-feira, fevereiro 09, 2007

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«Sim», claro!
Lisboa tem destas coisas

Devo ter mesmo uma ‘panca’ com os arrumadores de rua em Lisboa. Ou eles comigo…. Deve ser da forma como me relaciono com a cena deles.
Aos três que mais param na zona do Centro Vitória (Avenida da Liberdade, 170) conheço-os um a um. Já me contaram a sua vida toda. A vida mesmo. A idade. As doenças. A medicação e os preços. As dependências e a luta contra elas. A mulher de um, já afastada do palco da vida dele. O frio. As noites enroladas em jornais – o que é quente –, mas o papel de jornal (fiquei eu a saber um dia destes) cola-se ao suor da pele e de manhã é uma chatice.

Hoje de manhã, ia eu a subir a Avenida – nem sequer ia para o Vitória mas sim ao «Diário de Notícias» –, e eis que ali mesmo um deles me faz sinal. Abrando, digo que não vou parar ali. O clássico «Dê-me qualquer coisa. Ainda não comi nada». Paro. Abro o resto do vidro, olho para o espelho – no carro imediatamente atrás do meu, uma senhora. Em geral levo uma apitadela nestes casos. Não foi o caso. Ela percebeu tudo: que eu não ia parar, mas que ia dar um euro ao jovem. E aguentou calma.

Meteu a moeda ao bolso do blusão rafado. E larga-me esta, que mereceu estas linhas:
- Domingo, o «sim» vai ganhar.

Eh, pá. Não esperava por esta. E só tive tempo para um:
- Porta-te bem, malandro.

A Cidade tem destas coisas.


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3 comentários:

Anónimo disse...

que mau exemlo dar esmola aos arrumadores? Das duas uma ou aceita o serviço que lhe prestam ao arranjar lugar de estacionamentoe dá qualquer coisita ou não, mas dar esmola?

José Carlos Mendes disse...

Nem parei, homem.

José Carlos Mendes disse...

Desse radicalismo já gastei tudo.