sexta-feira, agosto 04, 2006

Supositórios não são para roer

A ti’ Encarnação e a sua ingenuidade

Mais uma do ti’ Narciso, o tal que era uma espécie de enfermeiro-médico popular etc..

Um dia, como tantas vezes acontecia, seguia o homem pelo sol das tardes quentes de verão daquela zona extremamente febril, e eis que uma senhora da aldeia o interpela:
- Ó senhor Narciso, ando aqui toda constipada e cheia de dores de garganta. Não tem nada que eu possa tomar?
- Então, vou-lhe aqui receitar umas coisas. Vai à farmácia e toma isto.

E receitou-lhe uma droga forte, como sempre fazia a toda a gente: escrevinhou num bocado de papel mal rasgado e mal rascunhado; as pessoas levavam aquela «receita» à farmácia da vila, e os funcionários da farmácia nem pestanejavam: conheciam-lhe tão bem os rabiscos, a assinatura e a caligrafia como conheciam as dos médicos da zona.
Bom.
A coisa passou-se, a senhora aviou a receita, curou-se e o ti’ Narciso nunca mais se preocupou com a doença da aldeã.

Uns dias mais tarde, encontrou-a numa rua e perguntou-lhe pela saúde:
- Então, os mediamentos fizeram-lhe bem?
- Oh! Muito bem, obrigada. Mas aquilo não é fácil de tomar. Agarravam-se-me aos dentes.
- Ó mulher do diabo, que aquilo não era para comer, era para meter no rabo…
- Ai!, responde ela, preocupada. Então e agora?
- Então agora, já os lá tem e fizeram-lhe bem, paciência…

1 comentário:

Anónimo disse...

tenho achado imensa piada a estas histórias do interior de Portugal: as dos anos 60 e as de agora. Parabéns. Continue. Ando encantada a ler estas coisas que se repetem / repetiam por outras zonas do País. Por exemplo: na minha terra, no Ribatejo, tamém avia um médico de aldeia que não tinha curso mas curava as pessoas.
Continue, por favor!
Obrigada.