segunda-feira, março 07, 2005

Cada vez gosto mais da Luna (IV)

Portas e a incubadora

Paulo Portas é o titular original do lugar de vereador do CDS em Lisboa. Na altura, foi substituído por Pedro Feist e, depois, em circunstâncias rocambolescas, este acabaria por ser também substituído, desta vez por António Monteiro, hoje presidente da EMEL, e responsável pelo espaço público na Cidade (por sinal, bem degradado). Mas o lugar é de Portas, repito.
Nesta jiga-joga do “para onde vou eu, para onde vais tu”, Portas já decidiu que ficaria «por uns tempos no Parlamento», «em sinal de humildade democrática». É claro que se tratará de tudo menos de humildade: Portas nem sabe onde isso mora. Esta bofetada de luva branca destina-se apenas a dar mais um pontapé na tal incubadora. É que Santana, mesmo antes de qualquer outra decisão, disse logo que nem tomava posse como deputado… Portas veio logo marcar a diferença. E pagar-lhe as contas feitas pelo PSD: se tivesse havido a coligação que Portas rejeitou, dizem os homens de Santana, o PS não teria maioria absoluta. Por isso: pontapé na incubadora
Arrumaram Santana? Nem pensar nisso!

Julgo que não. Santana vai para a Figueira da Foz durante um mandato e renasce das cinzas como a Fénix da estória. Há meio ano, previ quase tudo o que tem acontecido. O texto que segue foi enviado a vários jornais e publicado na altura. Era Junho do ano passado. Eis o texto:

«Jogada em 15 lances
O que Durão Barroso estendeu a Santana não foi uma casca de banana: foi um fio-detonador-de-granada-armadilhada-ali-mais-adiante, no trilho desta floresta-de-enganos-em-que-se-transformou-Portugal nas últimas semanas. E ele tropeçou logo. Foi muito fácil e previsível. (Recordo: isto foi escrito em Junho do ano passado.)
Mas há mais: agora, começa o procedimento para arrumar Santana Lopes, a prazo e por um prazo muito largo. Uma jogada de mestre, em 15 lances. Esses 15 passos para ele tropeçar no fio detonador são muito simples.
Um: levar Santana Lopes, num primeiro momento instintivo, a aceitar que se fale dele como Primeiro-Ministro, a olhar as câmaras já como tal. Dois: obrigá-lo a ter de recuar nesse ponto. Três: convocar manifs de apoio e contra. Quatro: obrigá-lo a pedir «silêncio, não falem mais de mim como Primeiro-Ministro».
Tudo isto para o «descredibilizar». Agora, vamos à parte do «complicar».
Cinco: tornar muito intrincado o processo da sua substituição na Câmara de Lisboa. Seis: afastar Santana da CML e acabar com esse perigoso trampolim. Sete: pôr a Comissão Política do PSD a tomar posição prévia. Oito: pôr o Conselho Nacional a mostrar o que vale. Nove: convocar um Congresso. Dez: levar Santana Lopes a formar um governo a prazo, com amigos-dele-e-menos-amigos de outros (barrosistas, cavaquistas etc.). Onze: instabilizar esse governo. Doze: afastá-lo da corrida a Belém. Treze: afastá-lo do Governo. Catorze: afastá-lo da Presidência do PSD.
Quinze e final: atrasar-lhe por mais quinze anos a entrada na porta grande da política...
E é nessa altura que vai surgir um salvador do PSD. Talvez um Dias Loureiro, que já se perfila, claramente. / Junho de 2004 / José Carlos Mendes / LISBOA»
Possa… Bateu tudo certinho (pagam-se na mesma moeda!). Tudo tal e qual, excepto a presidência do PSD para Dias Loureiro. E não inseri a hipótese Figueira da Foz, que hoje parece provável…

… Leio e sublinho: este é um mundo-cão: cada vez gosto mais da Luna!