quarta-feira, março 23, 2005
Jornal das 11 / Dia 23 de Março
Sondagens
Está de volta o furor das sondagens para todos os gostos, tendo em vista as eleições autárquicas. A Aximage já está em campo. Acaba de me telefonar um amigo, que ontem foi inquirido. Um dia destes saberemos se a sondagem se destina a órgãos de comunicação ou se foi efectuada para Santana Lopes e para o PS. As questões essenciais não enganam: 1) Em quem votaria hoje se nas eleições para a CML se confrontassem Santana/Ferro, Santana/Carrilho/ Santana/João Soares, Santana/Carmona. 2) Acha que o PS deve concorrer sozinho/com o PCP/ com o BE/ com o PCP e o BE.
Clarinho como água. A primeira questão deve ter sido encomendada pela CML e a segunda pelo PS.
Veremos. Se não sair um dia destes em jornais com esta fórmula, é certo e sabido que aqui há as encomendas citadas...
Catedral de Lisboa
A comunidade católica vai ficar feliz. E agradecida a Santana Lopes. Se até 9 de Outubro se desembrulharem todos os novelos que envolvem o processo. Não há padre, bispo ou cardeal que não faça o seu elogio atempado.
... E anda o PS a fazer sondagens que lhe dão maioria nas autárquicas sozinho...
Registos
1. «Público» de hoje. Investigação meritória de Mariana Oliveira. À moda de José António Cerejo (desculpem a comparação, mas é inevitável). O impoluto Bagão metido numa alhada dos diabos de um despacho de adjudicação provisória de material de telecomunicações para as forças de segurança e similares, despacho produzido já três dias depois das eleições. Valor da adjudicação: 500 milhões de euros. 500!! Foram consultadas cinco empresas. Quatro desistiram. A contemplada era dirigida antes de estar no governo pelo ministro que adjudicou, Daniel Sanches. À mesma empresa está ligado Dias Loureiro.
... Nada suspeito neste imbróglio. António Costa, o novo ministro não vai deixar passar.
2. Leio em «A Capital» de hoje, na entrevista de Mega Ferreira duas coisas dignas de nota: a primeira é que M. Ferreira diz que não está disponível para concorrer à CML; a segunda é que na sua opinião o projecto do Parque Mayer é um disparate. O projecto, noto, não a negociata. Ou li mal?
CML: Serviços de Medicina no Trabalho
Os Serviços de Saúde podem mudar de instalações. Esta será a terceira opção dessa mudança. O Sindicato da CML está preocupado e os trabalhadores também. Aliás, um relatório da Higiene, Segurança e Saúde dá parecer negativo a esta solução. Muitos dos trabalhadores do serviço já assinaram um documento de rejeição da solução.
Trata-se de serviços de psicologia, psiquiatria, acidentes em serviço, exames médicos etc.
«Consideramos que as novas instalações não têm dignidade para Serviços Médicos que servem 11 mil funcionários da CML – reclamam os trabalhadores do serviço (médicos, psicólogos, enfermeiros, pessoal de apoio) As razões são muitas: acessibilidade, envolvente urbanística, segurança, espaço físico das instalações.
Documentação em poder do Sindicato não deixa margem para dúvidas.
Golfe?
Dá para jogar golfe – dizia-me há dias uma amiga, ao observar a quantidade de buracos de toda a espécie que proliferam por esta Lisboa. No caso, estávamos a andar de carro entre o Corpo Santo e fomos à Expo, pela 24 de Julho, Cais do Sodré, Infante D. Henrique, em serviço e inevitável comentário. Toda a gente dentro do carro estava admirada com a diversidade de tamanhos e de máquinas a abrir e a tapar buracos. Normalmente, conduzimos tão absorvidos na música e no noticiário da TSF (digo eu) que nem olhamos para os buracos, os esburacamentos, melhor dizendo. Mas se se começa a dar atenção, é um vê se te avias: são às centenas. Então na zona que vai do Cais do Sodré até Santa Apolónia é um desatino. Dava para jogar golfe... e nunca falhar, tal é o tamanho de cada buraco! E não são obras do Metro. Mas o aterro da CML, totalmente abandonado e degradado ao Terreiro do Paço, dá de facto um ar de miserável serviço que confrange o mais endurecido…
Entre parêntesis
1. Os meus amigos da Sorefame – hoje Bombardier – continuam à porta da fábrica. À noite, o cenário é estranho, com as fogueiras e o pessoal a bater os pés no chão para não arrefecer. Heróis. Parecem cenas de 1975… quando aqueles mesmos operários e outros guardavam meios de produção noutros sítios (só os desta fábrica eram vários milhares, mais a Cometna, a Cabos Ávila, a Cel-Cat e tantas mais).
2. Canais de TV por cabo. Um deles: TV 5, francês. No mapa da informação meteorológica, estes analfas idiotas «não conhecem» (não incluem) Lisboa. Só chegam Madrid. O que, vindo da França até é estranho: Paris é a segunda cidade portuguesa, como se costuma dizer. E na França vivem mais de um milhão e duzentos mil portugueses e descendentes (a miudagem que vejo na minha terra no Verão já tem nacionalidade francesa: são filhos e sobretudo netos dos emigrantes dos anos 60). Mas a TV 5 não quer saber disto. Dá vontade de boicotar e nunca mais a «sintonizar».
Cumpre-se, «construindo»…
Promessas, leva-as o vento?
Na campanha eleitoral de 2001, Santana Lopes prometeu mundos e fundos.
Segue um extracto de uma entrevista dessa altura.
Jornal «Público», 11 de Novembro de 2001. Perguntam as jornalistas: «Prometeu recentemente um jardim, um pavilhão e uma piscina para cada bairro. Como é que vai conseguir cumprir?»
Resposta de Santana Lopes: «Construindo. É uma questão de captar recursos exteriores, nomeadamente comunitários. Também existem recursos próprios».
«E onde é que haverá espaço?»
«A câmara tem que os (sic) adquirir. Mas a câmara é a maior proprietária de Lisboa».
Comentários
1. Passaram três anos e quatro meses e meio. Resultado: nem jardins, nem pavilhões nem piscinas (estão em construção algumas agora, em fim de estação). Julgo mesmo que ninguém voltou a pensar no assunto. Mas para quê?
2. Os recursos exteriores não foram captados.
3. Os recursos da CML foram de tal modo desbaratados que deu no que deu: uma dívida gigantesca.
4. Mais e mais sério: os terrenos que a CML tem estão a ser alienados, não, como devia ser, em hasta pública mas em acordos, protocolos etc..
(Só se saberá tudo quando um dia puder ser efectuada uma sindicância global a esta gestão – dizem-me pessoas com muito traquejo nesta coisa das autarquias.)
5. Como agora Santana regressou expressamente para cumprir o prometido, mãos à obra: para cada bairro, «um jardim, um pavilhão e uma piscina».
Transportes públicos: «alternativa agradável»
No seu programa eleitoral, Santana Lopes fartou-se de prometer prazeres. Por exemplo, em matéria de transportes públicos, leio ali um verdadeiro céu aberto. Transcrevo só a síntese que tenho em meu poder. Nem é preciso fazer comentários. Era para ser assim:
«Os transportes de superfície – autocarros, eléctrico, táxi – devem ser valorizados e tornados mais atraentes pelo conforto, pelo preço e pela pontualidade, afirmando-se como alternativa agradável ao transporte individual.
«Preconiza-se a recuperação do carro eléctrico nos bairros históricos e a instalação de eléctricos rápidos: Estrada de Benfica, Estrada da Luz e outros.
«Seria vantajoso enterrar o Caminho-de-Ferro na zona da Avenida de Roma, criando à superfície uma praça linear.
«A articulação intermodal, integração entre a CP e outros comboios, Carris, Metropolitano e Transtejo e transportes colectivos privados (táxis e autocarros)».
Que bom que teria sido, não era?
Uff!! Que delírio!