segunda-feira, março 14, 2005

Um poema para iniciar a semana!

A Cidade de Sérgio Godinho

Lembro-lhe esta coisa bela. (Obrigado, Sérgio). Leia com calma, sem ‘stress’:

Cansados vão os corpos para casa
Dos ritmos imitados de outra dança
A noite finge ser ainda uma criança de olhos na lua
Com a sua cegueira da razão e do desejo

A noite é cega e as sombras de Lisboa
São da cidade branca a escura face
Lisboa é mãe solteira, amou como se fosse a mais indefesa princesa
Que as trevas algum dia coroaram

Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento enfim parou, já mal o vejo sobre o Tejo
E já tudo pode ser aquilo que parece na Lisboa que amanhece

O Tejo que reflecte o dia à solta
À noite é prisioneiro dos olhares
Ao cais dos miradouros vão chegando dos bares os navegantes
Amantes das teias que o amor e o fumo tecem

E o Necas que pensou que era cantora
Que as dádivas da noite são eternas
Mal chega a madrugada tem que rapar as pernas para que o dia não traia
‘Dietriesches’ que não foram nem ‘Marlènes’

Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento enfim parou, já mal o vejo sobre o Tejo
E já tudo pode ser aquilo que parece na Lisboa que amanhece

Em sonhos é sabido não se dorme
Aliás essa é a única vantagem
De após o vão trabalho o povo ir de viagem ao sono fundo, fecundo
Em glórias terrores e aventuras

E ai de quem acorde estremunhado
Espreitando pela fresta a ver se é dia
A essas ansiedades gritam friamente ao ouvido, ruído
Que a noite a seu costume transfigura

Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento enfim parou, já mal o vejo sobre o Tejo

E já tudo pode ser aquilo que parece na Lisboa que amanhece