Tanta mudança!
Uma importante empresa municipal, a EGEAC, que se dedica à animação cultural em Lisboa, está minada desde o princípio deste mandato pela instabilidade constante e crescente. Só presidentes do Conselho de Administração, já lá vão uns quatro. Administradores, mais uns tantos. Formas diferentes de actuar, mais do que muitas. Processos de «apaga-fogos» e fretes à CML, são às centenas.
Pelo meio, uns processos embrulhados, o que nestas andanças, é indispensável condimento do dia-a-dia.
E agora, para que não falta a cereja no bolo. A própria EGEAC faz das fraquezas forças ao declarar para os jornais como sua coroa de glória coisas como: a cobrança de bilhetes para entrar no Castelo de São Jorge, o encerramento do Maria Matos, dos Padrão dos Descobrimentos, do São Jorge…
Que rica folha de serviço!
Lisboa e custo de vida
É estranho ler que o custo de vida em Lisboa fica apenas 18% abaixo do de Nova Iorque. Penso nos salários. Penso no desemprego. Na impreparação da maioria dos desempregados para resistirem aos bloqueios do mercado…
Mas, tanto ou mais estranho ainda é ler, na mesma ocasião, que falharam rotundamente as previsões e promessas do Primeiro-ministro Santana Lopes e do ministro das Finanças Bagão Félix. Primeira: o défice (o celebrado défice) prometido para 2,9% vai afinal para os 7%. É um erro de mais de 240%. Se um aluno da 4ª classe (= 4º ano do 1º ciclo) errasse deste modo e com tais erros «de palmatória», seria no mínimo, afastado do ensino, se tal fosse possível… Segundo erro: foi prometido um crescimento para o país mas o crescimento real ficará pela metade.
Parece ficção, mas não é.
São promessas feitas com ar sério há apenas dois meses.
Intimidades em Lisboa…
O Túnel do Marquês, o referendo, a avaliação do impacte ambiental e os problemas de confluência deste túnel com a galeria do metropolitano. Há uns meses (em Junho passado) escrevi o seguinte que agora recordo:
«Na Câmara de Lisboa é hábito que os diálogos travados entre os eleitos, presidente e vereadores durante cada uma das sessões oficiais sejam transcritos na íntegra para a acta formal dessa sessão. A versão escrita é a reprodução absolutamente fiel da versão gravada. Palavra por palavra.
Isso leva ao inconveniente de nem sempre a linguagem oral ser correcta nem logo perceptível, mas acho que o leitor vai apreciar este extracto do que se passou na sessão de 12 de Maio passado. Estava-se a falar do Túnel do Marquês, e, mais propriamente, da alegada intenção do Tribunal de Contas de fazer auditorias e de acompanhar a obra passo a passo – dizia-se isso nas redacções. A dado momento, Santana Lopes falou assim: «O sr. Presidente do Tribunal de Contas teve a gentileza de me dizer das pessoas que lá iam constantemente requerer isso (auditoria), nomeadamente deputados da Assembleia Municipal, determinados partidos, organizações. E de facto às tantas, perante tanta insistência, é um bocado complicado, não é?» Resposta que o presidente da CML diz que deu: «Todas as auditorias que V. Ex. cia entender». Depois Santana Lopes acrescenta que a mesma entidade lhe assegurou que provavelmente seria uma auditoria técnica. Isto passou-se na sessão dos 30 anos do 25 de Abril, e estava também presente o Procurador-Geral da República. E que os três (outra vez «com gentileza») falaram de muitas outras coisas da Câmara de Lisboa etc. etc. etc. às tantas acrescenta ainda: «E depois eu disse ao sr. Presidente das Tribunal de Contas: ‘tenho todo o interesse em que auditorias técnicas vão ver a obra». A quantidade de coisas que a gente fica a saber só nesta «peça»: eis do que eles falam quando se juntam; eis que a CML autoriza a auditoria a si própria, de preferência só técnica, ao que o Tribunal de Contas anui, ali, entre dois dedos de conversa; mas o que estava em causa, para o Tribunal de Contas era bem outra coisa; e eis finalmente ainda que o Procurador-Geral da República é conivente com este tipo de enlaces, chamemos-lhes assim.
Uma pessoa lê e mal credita. Duas entidades daquele calibre a deixarem-se envolver ou a quererem ser envolvidas com quem têm ambas que investigar ou sei lá o quê. Não me soa bem, mesmo nada bem. E não há-de ser só a mim. Uma pessoa lê e fica pasmada. Como é que o Presidente do Tribunal de Contas e mesmo o Procurador-Geral da República mantêm e aceitam este tom chocarreiro sobre matéria em investigação em diversas instâncias judiciais? A que título entram nesta promiscuidade? Será desta forma que se vai algum dia dignificar a Justiça? Dantes, não era isto que se aprendia na Faculdade de Direito de Lisboa, não, meus senhores.»